quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eu me desintegro...



[...teus olhos miúdos
viajavam-me por dentro, 
por fora a pele secou e
poro a poro
estaladiça rachou
 inabitada].




 me aguarda e me convida....


´coloca uma palavra no vale da minha 
nudez e planta florestas de ambos os 
lados para que a minha boca fique 
toda à sombra´.






terça-feira, 30 de julho de 2013

Tudo na vida é válido para própria vida




 às vezes entre a crua infelicidade e a felicidade pura existe um muro de um frágil vidro a nos separar. sinto que entender a Vida sem se compreender a si, é ignorar a Vida que vive em si. falo das árvores, da chuva, do sol e da comunhão, das montanhas dos rios dos mares e a sua união. falo do alto do baixo, do longe do perto, da duvida da certeza, de mim (de si), de tudo que possamos vislumbrar, imaginar e contemplar. a vida em si não é um Julgamento nem um pensamento, mas sim a Consciência  dela. tudo na vida possui uma evolução uma criação um estado mágico contínuo de auto Criação. é na humildade e no reconhecimento que “não sabemos” que o espaço ao Novo em si surge...



segunda-feira, 29 de julho de 2013

É esperar pelo final do estio





"Na perplexidade confusa em que fiquei, concluí que entender e não-entender eram a mesma coisa. Não-entender era entender claramente que não entendia, do mesmo modo que entender era não entender que entendia. Um jogo de palavras. E o erro, porque me era de súbito evidente um erro, estava em procurar entender, necessariamente por palavras, o que não pertencia à ordem das palavras".






a dificuldade, penso eu, é explicar pra gente mesmo aquilo que já sabemos e que não podemos dizer nem a nós mesmos. as palavras não têm ordem. agarram-se às coisas. tornam-se, afinal, no próprio objeto que nomeiam. por vezes, porém, o véu é rasgado. nesses momentos, não podemos senão fechar os olhos e esperar pelas palavras certas. talvez no início fosse mesmo o verbo....




sábado, 27 de julho de 2013

0 espaço onde as presenças são nuvens



as vezes acho que é a simplicidade que atordoa. nos desacostumamos do simples, o mundo anda muito rebuscado, escondido em efeitos especiais, de respostas que só vem depois de jogos metafóricos. talvez por isso que dentro de mim há muitas paisagens. às vezes atravesso desertos, mergulho em oceanos, caço em florestas, deito em nuvens de algodão.nas minhas paisagens há rostos conhecidos ou uma multidão de desconhecidos a serem descobertos. não fosse o milagre do inusitado, minha vida teria menos emoção, menos vibração e eu estaria encolhida à condição do senso comum, onde tudo é igual. prefiro me aventurar ainda que aparentemente não esteja em movimento. meu corpo permanece estático, mas meu espírito entra e sai do futuro. minhas paisagens interiores me conduzem à vida nômade onde percorro estradas que só eu avisto. elas me mostram como sobreviver às intempéries porque experimento, ainda que ninguém o saiba.


These Days by Nico on Grooveshark diz....
´esses dias eu pareço 
pensar sobre
como todas as 
mudanças vieram 
na minha direção
e eu penso se eu vou ver 
outro caminho´


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Por pudor, sou impura









na trilha do corpo,
o meu querer é a passagem possível
para um estágio de súbita delicadeza,
desejos que se conjugam,
verbo derr(amado)
com a generosidade do
alimento farto.



[mais que estranho
é o mundo
que nos estranha...]
















´aquilo que amas bem permanece,
o resto é desperdício
o que amas bem não será arrebatado de ti
o que amas bem é a tua verdadeira herança´

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Essa busca de equilíbrio no fio da navalha











eu gostava da espera, da promessa de voltar.  gostava do olhar da esperança de chegar. porém , tua palavra sepultou meu sonho, meu acalanto, me despiu da alegria, do riso sem pressa, da infância derradeira, das brincadeiras inventadas, do amor que adorava, da canção que eu ouvia. tua palavra emudeceu meu olhar.

















´quanto mais
me despedaço,
mais fico
inteira
e serena´.
Cecília Meireles











quarta-feira, 24 de julho de 2013

Linha direta


ela é sensível e com as mudanças ao redor, o humor sofre alterações.  mas a vida lhe ensinou que  sem viver o caos, jamais saberia como avaliar as escolhas. sem esse aprendizado nunca saberia como tomar uma decisão e tampouco aprenderia sobre o discernimento [algo essencial] . respira fundo e pensa no rosto tranquilo da sua avó.  sim,  a vida é uma caminhada diária, passo a passo. quando chegava tensa em sua casa, era recebida com bom humor e sorria com os gestos largos da avó ao afirmar que  uma das áreas que podem causar maior problema em nossa vida fica no rosto. entre o queixo e o nariz. com a boca , dizemos coisas que não devemos, acabamos magoando outras pessoas e sofremos as consequências. porém o Tempo cura a sua maneira e no seu tempo.   lembrava que a fé é um músculo espiritual que necessita ser exercitado a fim de evitar que se atrofie e enfraqueça espiritualmente todo nosso ser.   com olhar sereno dizia que confiasse, seja o que for, Deus irá restaura-lo  ao mesmo tempo que oferecia uma xícara de chá.  e assim , tranquila , protegida pelos olhos mais doces que já viu,  ela  retornava ao caos....



terça-feira, 23 de julho de 2013

De viés




estuda o teu olhar
o meu olhar?
esconde algo
o meu do teu
o teu do meu?

quando aprenderam a fugir esses dois pares que antes se buscavam
indiscretos numa época, famintos noutra?



você recebe bem as oportunidades de ter alegria?





uma fração de segundos...

e ela estava nos labirintos
dos 60 segundos ,
dos 60 minutos,
que a encaminhariam
à alguma hora...

(Clarice Lispector)





domingo, 21 de julho de 2013

Nesse eterno faz de conta...

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na noite avançada
damas da noite explodem
feito granadas
perfume de mulher
pétala selvagem
brincadeira dos deuses
criando a flor
a sua imagem






[ ins[pira]díssimo  O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano]



sábado, 20 de julho de 2013

Tá no mar, tá no ar...tá em cada gesto


“I have always had a repulsive need to be something more than human.”
David Bowie





amizade
só faz sentido se traz
o céu
 para mais perto da
gente,
e se inaugura
aqui mesmo o seu
começo.
Chico Xavier












Cantigas de Roda
[ só porque hoje é dia do Amigo]

Terezinha de Jesus by Cantiga de Roda on Grooveshark

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Um esconderijo de episódios

maxinista:

mornings by Janelle Cordova on Flickr.

a  vida pode ser diferente, sem deixar substancialmente de ser a mesma?  era estranha esta sensação de familiaridade por algo que se vive pela primeira vez. estava do teu lado. a felicidade estava ao alcance do  meu coração. havia a calma das noites silenciosas e um inacabado céu que nos seguia.  a penumbra não deixava ver a totalidade do que és ou até onde te estendias. não conseguia adivinhar de que componentes te constituías. eras amparo e interrogação. o retorno foi silencioso, o carro seguia em meio a luzes artificiais que pontilhavam a nossa direção.   os meus olhos acompanhavam a massa indistinta e esbranquiçada no teto natural... saudade é esta "incompletude"?.  prenúncio de chuva ...









´no entanto, 
o intemporal em vós 
sabe
 da intemporalidade 
da vida.
 e sabe que ontem 
é apenas 
a memória 
de hoje
 e o amanhã é o 
sonho de hoje´
Khalil Gibran

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Lá longe de mim







de repente, sinto-me irremediavelmente criança e sem as amarras do quotidiano. hoje quero comer morangos, tingir a língua, piscar o olho para um ser imaginário, molhar  a boca com o vinho apropriado aos dias frios, lembrar que  vi abelhas enlouquecidas, divagar sem me prender ao pensamento, repassar álbuns de retratos, me ver feliz, ouvir pela décima vez a mesma música, andar descalça, fazer apenas uma oração, conjurar os anjos, brincar com as salamandras diminutas das chamas das velas, colocar as mãos sobre o fogo, viver a fração do tempo como um beija-flor na proeza do voo. nesta noite, quero me dedicar ao extremo ato das coisas simples, uma outra espécie de transbordamento, a devoção a cada hora vivida, o ritual dos tolos, o ritual dos sábios. hoje parei o futuro.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Bem-te-vi






a delicadeza  é um átimo, como a poesia. um flagrante, um momento, um click como a fotografia, que se revela num instante desdobrável. mas o instante passa e cabe a quem o vive a glória de ter chegado à felicidade. entre a realidade e o sonho.   depois é só a realidade. com suas cores uniformes, firmes, corretas. sem o delírio livre da beleza em estado puro, que provamos em pequenos cálices, em momentos únicos da vida [sim, deparei-me com o encantamento] alguns matizes, algumas nuances são bonitas como o poente, mas, como sempre, não duram mais que a fração do tempo...











terça-feira, 16 de julho de 2013

Indispensável que as margens se estreitem....







na mistura de cores o silêncio era absoluto, parecia que súbitos pensamentos  passavam pelo mesmo lugar a todo tempo e encostavam nas paredes do meu próprio vento. vozes inaudíveis tentavam emergir sufocadas pela não existência de som, feneciam mesmo antes de tomar forma, desespero de quem tenta libertar-se das lamas sugadoras do pântano.   na superfície plana ergue-se suavemente um som audível e, nesse momento, foi o silêncio que me despertou, quebrou-se, deixando no ar um som cativante que foi preenchendo espaços mais ou menos vazios . é exaltante ver a outra margem cada vez mais próxima, em harmonia, para que a travessia se faça em segurança e com ligeireza.  sobra-me a liquidez do dia a dia e a petrificação de conceitos.






segunda-feira, 15 de julho de 2013

Olhos entreabertos



e a vida ensina
que o desapego surge assim como a paz.
libertam-se imagens dos dedos
já não existe ansiedade.
o silêncio não é uma ponte
e as horas não são ilhas...






sábado, 13 de julho de 2013

mais rápido do que a vida



Olho no olho.
Olho no corpo.
Boca no ouvido.
Ouvido na boca.
Mão na mão.
Boca na boca.
Mão no corpo.
Corpo na mão.
Corpo no corpo!

….



Corpo sem coração
 …………………….. Coração sem corpo!




















The Game Of Love 

[quero beijos de amor
e a guitarra de Santana, 
fazendo o som dos meus ouvidos.]




sexta-feira, 12 de julho de 2013

O que ronda tamanho espaço...










noite se pinta de um calabouço voraz, trazendo imagens rudes de onde o templo magnífico não se apresenta à vossa sombra .  há estados de alma tão incandescentes que abordá-los é simplesmente renovar seu ardor e arder, alimentar sua capacidade de fogo e danar-se.  só é possível, então, afastar o olhar, olhar para outra coisa, fazer de conta que ainda resta algo no mundo que as chamas não consumiram, até que o tempo, única força realmente invulnerável, capaz de afetar sem ser afetada, faça seu trabalho e o que era brasa viva seja por fim o tênue eco de um calor, uma cinza inofensiva.








quinta-feira, 11 de julho de 2013

Brilho eterno....





No fim tudo dá certo! Meu pai sempre repetindo essa frase,
 mas como era difícil às vezes  me convencer que ela é verdadeira.

 Então, a vida resolve provar.

É, pai, no fim tudo dá certo!

(e se não deu certo,  é porque ainda não chegou ao fim)




Sinto tua falta. muito.
Parabéns. De onde estiver Feliz dia Teu.




[para os amigos [que tiverem tempo] desembrulharem comigo.....aqui]


segunda-feira, 8 de julho de 2013

A ex-pressão de quem não/ de quem sem...




No retrato que me faço
— traço a traço — 
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore.

Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança…
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão…

E, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!
 tem dia em que companha-me a aridez lá fora e o deserto entranhava-se cada vez mais em mim. a inquietação por um tempo  foi esquecida quanto um vento morno  bateu no meu  rosto . Suspirei e senti um desejo imenso  dar uma volta pelos telhados, quando tudo estiver dormindo, pessoas, coisas, gatos, pássaros.  Não será nada como voar e não haverá nada de metafórico neste passeio, apenas algo que se pareça com uma afirmação, determinada apenas pelo que dela e das suas implicações se desconhece. Pela rua, parece-me tudo cada vez mais difícil, mais frases sem predicado, sujeitos bizarros e indefinidos por inferir, gramática que me agarra ao chão, sem gratificação de sentido. Vou pelos telhados, hoje à noite. Darei notícias do que captar e voltarei outra. Nunca se volta igual de um passeio pelos telhados de uma cidade qualquer, penso eu.






domingo, 7 de julho de 2013

Virou um tudo que não se acaba...




sempre há
uma ordem
a nos quebrar os passos

não há
corrida que baste
para superar
as sombras esféricas
do alinhamento

                         






sábado, 6 de julho de 2013

Quero o que mais me dá vontade, e quero vontade pra prosseguir

Morfologia da saudade…


a noite é longa e a manhã não vem. transito pelo avesso dos sentidos em desarranjos possíveis e inventados. ligo a tv  e a cena final de "Encontros e Desencontros" me arrepia. aquele sussurro entre os personagens, inteligível a quem assiste é a pura tradução da cumplicidade construída entre os dois  durante a história. Charlotte e Bob experimentam solidões particulares em meio a uma Tóquio de neons e agitações que, a princípio, parece não afetá-los. o encontro dos dois em uma madrugada insone preenche com sentidos o vazio que eles partilham diante de suas vidas, até então, insípidas e incolores. ela, em sua juventude, vigor e beleza é o mundo que ele deseja habitar. ele, com sua experiência e inteligência é o universo que ela deseja possuir. e assim, silêncios são partilhados em uma narrativa brilhantemente orquestrada por Sofia Coppola. em um jogo de antíteses, completudes são construídas na relação carinhosa que parece alimentar a vontade de movimentar suas vidas, até ali, estáticas. o filme termina, mas seu gosto saboroso permanece latente no modo como me faz refletir sobre tantas coisas como solidão, silêncio, identidade, escolha, vontade e projeto de vida. aquele sussurro do final, parece ressoar em meus ouvidos como uma melodia, cujos acordes repetem sem cessar " it's good, so good, it's so good "

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Logo ela que rouca gritava o caminho exato...




vento-me
num vendaval de sol
e se aquele mês fosse
o que não foi
saberia sobre quem ia
e sobre o que ia acontecer.
então volta, insólita sensatez
vem colocar minha vida em ordem.
dá-me a circunferência, o elo, o ciclo.
de uma ponta de um semicírculo,
não consigo avistar a outra.
eu gosto dos eternos.




quarta-feira, 3 de julho de 2013

É a vontade que consome o ar...





 amanheceu e mal podia enxergar as luzes reais. ela tinha medo de atravessar a ponte precária. ela nunca tinha reflexos rápidos quando acordava muito cedo, tudo dava errado. o leite transbordava na fervura, errava a medida do café, a gata não saía de seu esconderijo secreto . ela tinha receio porque se distraia nestes dias que nascem esquisitos. ela transbordava na fervura, errava a medida das palavras, tinha medo que ele não voltasse. porque o amor não tem pontes, nem escadas, é só uma estrada comprida, sem semáforos para indicar se a gente avança ou recua, enquanto a vida transborda.




terça-feira, 2 de julho de 2013

Um tête-à-tête de sussurros






tive um tempo em que a esperança permanecia transbordando [com doses sutis de receio] enquanto suas palavras vazavam com perseverança vã. hoje não vou fingir superioridade e nem vitimismo, meu coração ainda bate, porém a solidão que sinto não tem a dor do apartheid nem do isolamento. é algo assim como sentir tédio no meio da torcida e ir pra casa como uma desenganada social ou um mamute que se perdeu do bando, reeditando a era do gelo. o que sinto tem a humanidade que vinga como uma flor à luz do dia, com pétalas e raízes aquecidas, brotando, crescendo e morrendo como um girassol de floração única, suspenso em seus próprios atos. é a solidão do ciclo de ser mais uma em campo, deitando sementes, como quem deita palavras, polinizando vazios como um  exercício de beleza. e se um dia conversar com um anjo, pedirei pra que ele dê uma volta junto a mim, e não direi mais nada,  sei que ele se encarregará de mostrar o que me torna tão diferente... 





segunda-feira, 1 de julho de 2013

Palavras desconexas na cama

ando tramando revoluções diárias que não ultrapassam o som de minha respiração ansiosa. amanhecer traz novas cores translúcidas e, na véspera, nunca sabemos que energias vão comandar  o ciclo de rotação da Terra. não sei se os anjos que, dizem, vivem zelando pelas pessoas e bichos, mas sei que o dia virá melancólico ou vibrante. se houver luz, quero captar num flash os acontecimentos das minhas próximas horas. se houver escuridão, devo quebrar as vidraças, ainda que sangre os punhos. agora é noite e silêncio. a natureza medita como um monge zen que atingiu o Nirvana do tempo. no fim de tudo, peço aos deuses que sejamos mais flor do que pedra porque a   beleza importa mais que a eternidade...