sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O que é que acontece?





algumas vezes não dá muito certo  sair por ai falando que a vida é bela. de hoje em diante quero a verdade,  ainda que seja para ser colocada em sopros sobre um tecido fino, desses que  esgarçam à toa como as pétalas [ou as pessoas].  pelo sim, pelo não, ainda prefiro a verdade.   é como agarrar a crina de um cavalo quando ele salta eu sinto medo, mas me seguro.   com  a mentira não dá pra saltar.   é o inesperado. o bote da serpente.  o fio da lâmina. a hora do blues [aquela em que se desvanecem todos os argumentos] e sobra a dor. que dita assim, de forma quase técnica, dói quase menos.  a mentira tem pernas curtas, dedos longos, olhos que se abrem como um semáforo sinalizando PARE!





quarta-feira, 29 de outubro de 2014

conhecendo o que desconheço







  (..) o que eu tentei captar de você escapou-me. não era nem ontem e eu achava que te prendia. capturava-te, instantes pois veio de longe não em completo esquecimento nem em completa nudez veio tão esfomeado de uma receita que  me é lembrada e tão insatisfeito da satisfação insaciada e tão próximo do limite a um precipício  voltado. éramos irreais vivendo um amor irreal. procuramos o que não era de se achar.não conseguimos tornar o amor real. porque certeza e amor,  é presunção.



sábado, 25 de outubro de 2014

desvio





 ela mesclava-se com os seus livros de poesia,
na esperança de que ele a lesse
tal como se fosse seu poema favorito








sexta-feira, 24 de outubro de 2014

nos desertos - íntimos, insuspeitos -






um ruído surdo, confuso.  imperceptível
durante o dia,
enche toda a
 penumbra noturna
viam-se
com as pontas dos dedos
com o eco das vozes









quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ter fé e ver coragem no amor...







não gosto muito de ter certezas. gosto das surpresas que agitam o caminho. não somos folhas brancas, [aquela metáfora era mesmo péssima]  ninguém vaga totalmente vulnerável por aí, esperando a ação de outros. as pessoas têm escolhas. podem aceitar ou recusar a ideia de que precisam ser melhoradas e têm a decisão final de deixar essa função para outros ou não. no fim, todo mundo que passa pela nossa vida realmente deixa um pouco de si, mesmo que seja a certeza de que você quer ser o exato oposto daquilo. mesmo que a oportunidade de ver que tipo de pessoa você realmente quer ser. é possível escolher quem te magoa nesse mundo, assim como é possível escolher ser e quem te conserta. a melhor coisa é quando alguém escolhe a si mesmo. mas se você quiser entre o sim e o não tem sempre um segundo de poesia...




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

esta manhã não lavei os olhos




0 sol dos sonhos derreteu-lhe as asas
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...

Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede, impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.

Miguel Torga
(in Poesia Completa,
vol. II)






[bati na
porta da vida
e disse-lhe:
não tenho medo
de vivê-la]



hoje o dia é só meu! ♕ ♔




domingo, 19 de outubro de 2014

hoje é domingo pé de cachimbo




Os quintais da minha infância insistiam em me enganar e me fazer mentirosa. Eu encontrava pé de tudo quanto é coisa: de abobrinha, de banana,de jabuticaba mas nunca o mais valioso de todos: o sonhado pé de cachimbo.Cresci com a memória da minha frustração em achar um pé de cachimbo. Vivi feliz com ela até o exato momento em que um primo sabichão me revelou o que para mim seria uma tragédia: “Hoje é domingo, pede cachimbo”. Pede? Como assim?...... Traidor domingo que pede cachimbo. Que pede o sentar-se descansadamente com o troço de madeira, osso ou sei lá o que mais entre os lábios. Pede, do verbo pedir, presente do indicativo, terceira pessoa do singular. O domingo pede cachimbo. Por que, domingo? Não podias ter pedido um bolo? Um suco detox? Um chinelo? Por que me traíste? Eu que te amava tanto. Que em tuas manhãs e tardes fazia nada e procurava pés de cachimbo pelos quintais, enquanto o mundo, lá longe, muito longe, se acaba nas insuportáveis intrigas de adultos. Por que me traíste pedindo o miserável cachimbo? Para mim, hoje ainda é “domingo, PÉ de cachimbo”. E que se dane o próximo domingo, o domingo (in)feliz, que com sua falta de criatividade se arrastara pedindo coisas e destruindo memórias.....



* musica aqui


**próximo domingo
segundo turno eleições presidenciais





sábado, 18 de outubro de 2014

carrega feito sísifo....





fora, há quem pense que a vida lhe escapou ressequida. mas quando cala, a palavra está em primavera. alguém um dia lhe disse que seu querer seja fabricado por essa usina de sonhos que funciona como o relógio . dentro. pode ser. talvez não tenha rastro qualquer na racional superfície da mortalidade. viu, viveu e sentiu que na redoma cruel da realidade este jeito de ser não conseguiria manter-se ereta em seus princípios diante de minúsculos contratempos. o que dizer então  dos verdadeiros tremores de sentimentos? das verdadeiras beiras de abismos da escolha entre o tudo e o nada?  pensou em Xerxes e as 300 chibatadas no oceano.sua consciência nau-fraga. sabe que tudo é vestido e urdido entre o verdadeiro e o falso, sem nunca os alcançar. por isso, é quase Éden. Adão culpabiliza Eva, e Eva a serpente. uma só tormenta  o exército de Xerxes derrotado.há que desalojar do azul uma tristeza.  atribuir o gozo à falta. essa fenda por onde se estica o desejo, como se as mãos escorregando na tarde retesem nuvens. para inalcançar, cresce. tem um alvo disfarçado em galáxia.  no estio, tem vida fecunda só dentro e um girassol enfeita os anéis de Saturno. quer se desconhecer até o ponto de saber-fazer-se pelos descaminhos....







hoje estou tecendo fios  aqui:
flor de lis

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

....que se combinavam entre si




Cheiroso. Intenso. Cheio de um frescor que eu já desconhecia. Assim pode ser um dia na semana, planejado para dar certo.Começa brando e morno, no ritmo e na temperatura. Caminharemos mansos, entre passos incertos de certezas. Mergulhados nas ondas. Correremos demorados entre os grãos de areia passando por entre os dedos. Saborearemos um picolé. E beijos. E pele com sabor a sal. Contemplaremos. Passeios em memórias do presente e saudades do futuro. Regressaremos sem pressas, pelos trilhos de sempre. E pelas frestas das janelas de sol coada pelas cortinas a sussurrar segredos da intimidade  adormecida a luz que passara enamorada lá fora. Deixaremos entrar o canto dos pássaros e mais tarde o canto dos grilos. A luz da lua. Conjugaremos o sabor prosaico de rodelas de pepino e uma lata de atum. Um vinho gelado. Momentos  que são feitos de palavras que são feitos de silêncios. Os dias intensamente felizes não são os que falam mas os que murmuram um apelo sussurrado aos sentidos e aos sentimentos. . Baixinho.








sexta-feira, 10 de outubro de 2014

quem sonha improvisa





é inevitável mas  o nosso cérebro envelhece com a idade como envelhecem as nossas artérias. sei que tenho a idade das minhas artérias, mas nunca admito que o meu cérebro envelhece no mesmo ritmo. agarro-me com unhas e dentes a esta fantástica capacidade de plasticidade cerebral  embora sinta na pele que há uma ira espalhada pelo mundo, nas palavras, nos gestos. creio ser a ira  o pavio que incendeia o medo, e se é preciso coragem para se ser feliz, então o mundo anda longe disso. uma grande maioria não quer mais correr riscos por que lhes parece muito ousado, muito longe de suas realidades. a cada dia me convenço de que ser feliz não tem nada haver com mudar a vida das pessoas, mas sim, mudar a realidade do seu mundo particular, dos seus pensamentos, das suas lembranças. é como se de repente você mudasse um pouco o foco, acreditando que existe uma possibilidade de se viver as coisas de uma forma melhor. a  tristeza é inerte, enquanto a alegria é dinâmica, é a forma como a vida nos conta de quantas chances nós temos de nos sentir bem.

feliz dia para a tua criança interior, então!




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

meu querido john






você extrai da complexidade dos tempos que correm, a poesia e a reflexão que atinge e aquece o coração de nós  pequenos anônimos e do anônimo mundo de cada um de nós. você  enche nossos corações que anda tão repleto de incertezas, dúvidas, dramas de alegrias, paixões e esperança. grata john o mais contemporâneo e sempre mais amado.

feliz dia teu!








segunda-feira, 6 de outubro de 2014

e como eu era...?



estou sozinha em casa. cozinho uma receita sem gosto e sem graça para anestesiar a compulsão de meus dias. ao lado, um chá verde com limão que traz o amargo para a boca, tornando especial o momento certo da saudade. saudade que sempre varia nos dizeres, apesar de o sotaque não variar. gosto de viajar por dentro das palavras. viajar assim  é ter oportunidade de sentir saudade do que era rotina. viajar por dentro da realidade  é sentir saudade do que ainda está por vir, da descoberta de um tempo paralelo em outra parte do planeta. ontem voltei no tempo, hoje é dia de esquecer com o que quase me acostumei. é  mais fácil arrumar as gavetas do que desfazê-las e assim também é com sonhos que depois de desfeitos trazem uma sensação de alivio tão grande que esquecemos do porque estávamos tão apegados a aquele  sonho.  arrumar as gavetas é lutar contra a sensação de estar esquecendo alguma coisa. sonhar é lutar com a realidade. a comida ficou pronta e a música ecoa pelas paredes. está desfeita a conexão. ainda me resta este chá frio para sorver um pouco desta saudade sem prazo de validade.





sábado, 4 de outubro de 2014

era bom simplesmente ser....




em alguns momentos a vida se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - quem somos? tantas vezes podemos ser classificados e reclassificados como maremoto ou monotonia e assim como os caminhos se abrem, esses também se fecham. na vida é necessário acostumar-se com oscilações e vaivéns, aceitando que tudo que vai retorna, e que tudo que retorna irá embora um dia também. 
e nesses vaivéns não sei se te quero. não sei sobre mim. é difícil perceber o quanto somos complexo mas, mais difícil é admitir o quanto somos previsíveis.   as histórias mudam com muita rapidez. procuro por algo que me mova. por hora, fico parada observando não chego a conclusões – não sei se te quero. observo, irritada. não sei se quero saber. quero me mover, mover. mas fico aqui,observando. não sei sobre mim.porém, todos nós gostaríamos de ser, um para o outro, bálsamo, inferno e alegria.