é preciso não esquecer nada
nem a torneira aberta
nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
é preciso não esquecer
de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
o que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome,
o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.
o que é preciso esquecer
é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.
o que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco,
pois o resto não nos pertence
. Cecília Meireles.
sozinha, eu me apago aos poucos. não acompanho a velocidade do mundo. não sei parar. vou e venho por não saber além do que me resta. meu lugar é perto do fogo, junto a todos os que fogem da treva e se sentam tranquilos em torno da chama. faz tempo que ardo. sou tição desconfiada, receosa que o vento me apanhe como cinza. esta chama é lenta, ainda tem muito lume para fazer. lá fora o corpo faz-se, umedecido pelos dias. se eu não me soubesse até não repararia na tenacidade da minha sombra. meu incêndio é esse : ser fiel ao que me arde.