domingo, 31 de agosto de 2014

vez em quando ela queria estar pronta ...



 (..) sozinha em casa . som alto para não ouvir os pensamentos, os próprios sentimentos. barulho para não ouvir lamentos, reclames, ruídos, ouvir para não ouvir seria seu lema. porém enquanto tocou aquela música se aquietou, sua vida foi passando pela cabeça. como se cada estrofe fosse uma cena. como se cada nota fosse um sentimento. a música era a sua vida inteira. uma sequência repetitiva ao fundo, essencialmente idêntica, uma após a outra. então pensou que não precisava acontecer nada maravilhoso, inesquecível, perfeito, nada muito diferente do que os momentos atuais. e que havia muita beleza nisto. como na música. dentro do seu coração existia um céu de muitas estrelas, existia uma bruma com aroma de ervas secretas, mágicas, e lá existe uma casa.  triste daqueles que não conseguem se deliciar durante a flutuação das notas e avançam até o fim para ouvir logo o acorde final. não percebendo que o que  gera a força pra essa nota é o amor que ela tem, guarda e salvaguarda pra lhe dar.  suspira. é o seu jeito: insistir no desejo acreditando que o universo conspira.



sábado, 30 de agosto de 2014

telefone sem fio...





(..) a pressa não é apenas inimiga da perfeição, ela também provoca perturbações nos relacionamentos que deveriam ser preservados ao máximo disso, pensava enquanto chegava pertinho do mar . porém, naquela manhã havia um certo prazer em estender-se na areia fina e macia como quem escolhe onde pousar os ombros. conhecia todos os formatos e todos os enredos das nuvens. ela conhecia.o sol, por vezes, atrapalhava o destino mas isso também não era um grande problema. era facilmente ultrapassável. as nuvens dançavam e diziam-lhe palavras ao ouvido.ela sorria e sonhava. pensava quantas pessoas existiriam no mundo e quantas prestariam atenção aquele emaranhado de histórias. são tantas, são tantas....ela olhava de baixo para cima, em direção ao céu, e isso fazia com que mantivesse uma esperança.  de olhos brilhantes.seguindo o dia. 
seguindo em frente.




sexta-feira, 29 de agosto de 2014

afinal, quem somos nós sem nós ?








de historia em história
um dia invento
o caminho certo
de tempo em tempo
sem contratempo
e se a aurora’inda vai alta,
é porque é cedo.
eu não mudo. só emudeço






quinta-feira, 28 de agosto de 2014

se isso me torna superficial, paciência.




em passos naturais ia pela orla a fora. podia ter esperado por uma carona.  para quê? meia hora de caminhada só lhe faria bem. ficou satisfeita de pensar que fez a melhor escolha. a acertada. sentia o mar  sobre os seus pés, ainda lutando contra o sol  da manhã. mas, sobretudo, sentia aquele vento fino e refrescante. fez-lhe lembrar a aragem da serra. fez-lhe lembrar os relatos da infância da sua vó, quando ela dizia que em plena calçada quente andava descalça, porque naquele tempo não havia dinheiro para sapatos. achou invulgar o vento naquela manhã. o seu cabelo, que havia lavado antes de sair de casa, já estava em completo desalinho e ondulado pelo vento. não se importou. o sol não a incomodou. o vento não a incomodou. nem mesmo o fato de que por um descuido seu tivessem levado sua bolsa com teus pertences. estranhamente . com olhos miúdos pelo sol, lamentou pelos óculos que deixava o seu céu mais azul.

o dia despertava agitado. ela despertava
 para a vida sem temores.