terça-feira, 18 de junho de 2013

Em parte (in)certa!






Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras. Poucas,
ditas como por acaso.
.
Eram contudo palavras de amor.
Não propriamente ditas,
antes adivinhadas. Ou só pressentidas.
Como folhas verdes de passagem.
Um verde, digamos, brilhante,
de laranjeiras.
.
Foi como se de repente chovesse:
as folhas, quero dizer, as palavras
brilharam. Não que fossem ditas,
mas eram de amor, embora só adivinhadas.
Por isso brilhavam. Como folhas
molhadas.
.
.
Eugénio de Andrade





[há momentos,  em que sinto a necessidade de fugir para outros momentos]







segunda-feira, 17 de junho de 2013

E aqueles outros tempos correm em outro lugar




os olhos refletiam solidão e  para não falar somente de coisas tristes, ela folheava os antigos álbuns de fotografias.  gostava de virar as páginas dos seus pensamentos conforme observava as imagens do passado.  erguia os olhos, de vez em quando, e via através da janela que ainda restavam pequenas partículas de água. não havia nada além das gotas. deslizavam desinibidas pelo seu pescoço e ombro, desciam pelo braço, desaguavam em seus dedos. sabia que não há quase nada  que se possa fazer para mudar o estado das coisas.  o passado era isto: uma mancha difusa irrigada pela saudade. amor é intimidade que não se obtém por resumo, não é dado à frase curta , quer vagar para divagar....