(..) eram cinco da tarde. os livros empilhados resumiam uma existência catalogada por palavras que tentava recriar para si. agora a tarde era só tarde, e a noite não parecia apressar-se em chegar. mas sabia que por mais que se adentre, por mais perto que você chegue tudo se desdobra, tudo ramifica. imaginou um corte profundo no céu, e a profundidade lhe escapou. sorriu ao ver que o que se abre são novas superfícies, frescas e vivas. não há dentro, não há centro, não há fundo. quanto mais se olha, mais os detalhes dão cria, mais a complexidade viceja. a musica que tocava movimentava seus pensamentos. se rasgasse a partitura em mil pedaço a sinfonia seria a mesma em cada nota então começa a dançar. a sala logo se preencheu de sombras. as cores perderam seu lugar. aproveitou o milagre, respirou com gosto, e caiu de volta no fluxo com a alma lavada....