(...)quando sol se derrama sobre os meus olhos. da cisão de meu ser, da discórdia do meu eu, da contradição intima, nasce o duplo, a Outra que me habita, tão próxima e desconhecida. nasce para o tédio vencido ao estalar os dedos. para o meu momento perdido no espaço entre as palavras em que, raramente, consigo voltar à tempo de acompanhar a realidade. para as estradas construídas nos espaços oníricos, nas fotografias tiradas . para os amores que nunca aconteceram, para as paixões avassaladoras. para as tardes perdidas, para os beijos ganhos. para o sexo ausente (ou presente), para a carência latente nos dias de domingo, para os banhos de chuva, para os dias de sol. para o meu coração acelerado, para as lágrimas e o seu ciclo vicioso, para o cinema gelado, para as músicas do por-do-sol. para o quase anoitecer, para a minha noite, para minhas mãos, para minhas cores, para o meu mundo, para minha vida, para o meu transbordar, para o desejo que duvida, a ação que vacila, a fala que gagueja. para os suspiros apaixonados de todas as manhãs desprevenidas que transformam tudo em uma eterna primavera entre aquele vidro e aquela gotícula de água, que desde muito tempo estavam marcados para se fundir e desenharem, da sua forma, a sua breve história de amor. dentro da eternidade e a cada instante enfim. tudo são poeiras ao vento.....