quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

voemos com o que temos





“Pentimento” é a palavra italiana para arrependimento, mas designa (em muitas línguas) uma pintura, um desenho ou um esboço encoberto pela versão final de um quadro. [...]

Visível ou não, o pentimento faz parte do quadro, assim como fazem parte da nossa vida muitas tentações e muitos projetos dos quais desistimos. São restos do passado que, escondidos e não apagados, transparecem no presente, como potencialidades que não foram realizadas, mas que, mesmo assim, integram a nossa história. [...]

Nossas vidas são abarrotadas de caminhos que deixamos de pegar; são todos pentimentos, mais ou menos encobertos: histórias que não se realizaram. Por que não se realizaram? Em geral, pensamos que nos faltou a coragem: não soubemos renunciar às coisas das quais era necessário abdicar para que outras escolhas tivessem uma chance. E é verdade que, quase sempre, desistimos de desejos, paixões e sonhos porque custamos a aceitar que nada se realiza sem perdas: por não querermos perder nada, acabamos perdendo tudo. [...]

Somos perigosamente nostálgicos de escolhas passadas alternativas, que teriam nos levado a um presente diferente. Se essas escolhas não existiram, somos capazes de inventá-las – e de vivê-las como pentimentos.

Contardo Calligaris, trechos de Pentimentos.



[e lá vamos nós, sem tempo para lapidação mas cuidando para não ser bruto]

O inevitável




a cada dia percebo com mais clareza que não há esquecimento que te salve do passado. e  porque será que  somente os finais é que conservam sua essência? finais e seu amargo gosto de final.  as vezes, acredito que até os finais deixaram de ser tão pontos-finais - para alguns o fim agora é um começo e tem o grato sabor do renascer- para mim e meus olhos cansados, fim é fim e sempre guarda o dissabor das saudades, dos olhares à meio-ponto, das mãos desatadas, das canções tocando em vão, do telefone silenciado, dos longos dias chuvosos. o inconfundível dissabor do amor. do amor-único ganhando um ponto-final.









e o que a gente faz com essa vontade de não ser?












sussurro
sem
som
onde
a gente
se lembra
do que
nunca soube

Guimarães Rosa










http://youtu.be/YVMARecAY5M

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A fonte de seu charme...




 Gilles Deleuze filósofo francês da Diferença. para este pensador, "a filosofia é criação de conceitos", característica esta que a distingue da Arte e da Ciência. Sua proposta vai de encontro à Psicanálise, ao afirma que, ao invés do "inconsciente" ser uma espécie de teatro da representação, o inconsciente estaria mais próximo de uma fábrica operada pela própria consciência, um "ato de criação". Além disso, Deleuze ousara continuar o projeto Nietzscheano de "superação da metafísica" e da "transmutação de todos os valores" 

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida. Agiu como forma de libertação das intensidades e paixões... "









Gilles Deleuze (Paris, 18 de Janeiro de 1925
 — Paris, 4 de Novembro de 1995)






coração não
é tão simples
quanto pensa
nele cabe o que
 não cabe na dispensa...♫♫












Algum sopro





(...) intimidade é quando cada parte do corpo  interage em perfeita sintonia com cada parte de outro corpo. Incluindo vastas emoções e pensamentos imperfeitos.










(e a saudade ?alguém sabe dizer o que é?)


.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Carinhos de verdade têm efeitos retroativos






Hoje eu fui mimada por uma blogueira super talentosa, a Majoli  dos acrósticos ( aqui ) .ela me deu um selinho  ´Blog Encantador´ (te mete).rs

Dai que junto vieram 3 tarefas.

-indicar 4 blogs
-responder a duas perguntas:

Qual a minha cor favorita e por que.
-não tenho. gosto de várias.
depende do meu humor/estado de espírito.

Qual o meu maior sonho.
-Ver as pessoas realizando seus sonhos...ver meus filhos com olhares
amorosos ante a vida (apesar de tantas injustiças).
Porque acredito em muitas coisas e sobretudo na capacidade infinita do
 Pensamento, esse Mágico Criativo do Universo.
 Acho que é por aí...


Eu gosto de muitos blogues.(esses que cito , não se sintam forçados
a levar a tarefa, certo?)

o da Lis pelas fotos fantásticas
http://lis-simplesmentelis.blogspot.com.br/


o da melysande por teus contos envolventes
http://contosimpossveis.blogspot.com.br/


o da Stela por me ajudar em momentos conflitantes
http://stelalecocq.blogspot.com.br

e claro o da minha filhota Camila e sua amiga Luana
que me estimulam a ficar bonita
http://maniadenude.blogspot.com.br/


tem mais \bastante mais ao final da página/ que acho encantadores ...
(sigo a regrinha)



 0brigada

o silêncio não é uma ponte











preciso crer que anjos solícitos recebem as horas que o sonho não guardou. reflexos de sorrisos passados, a melancolia de um céu que nos entreabre um pedaço de mar, uma possibilidade de regresso. mãos abstratas seguram espelhos de vento, o tempo por trás das palavras torna-se insuportável. existe chuva por onde não passamos em certos invernos mas o que fazer com as raízes do coração? qual o caminho mais curto para o destino? mais um pouco e virá o tempo de soletrar o vento que nos agita a alma. o tempo de rasgar a indecisão e partir com aqueles que nada sabem. olho para as linhas das mãos e vejo atalhos. atalhos para quem chega. atalhos para quem tem de partir.

.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

domingo, 27 de janeiro de 2013

cada tempo em seu lugar





´então eu descerei e ali falarei contigo, 
e tirarei do espírito que está sobre ti,
 e o porei sobre eles; 
e contigo levarão a carga do povo, 
para que tu não a leves sozinho´

Números Capítulo 11.17



Deus, lá fora os pássaros cantam dando bons indícios  de que um novo dia começa. entrego para Ti as áreas da minha vida que são pesadas e desanimadoras. peço perdão pela minha prepotência. peço que tomes cada fardo e me capacites a vencer toda situação desafiadora.

amém.



http://www.youtube.com/watch?v=3eKnerBU4HY

sábado, 26 de janeiro de 2013

diário dos mesmos pesares





«Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro!.»


Clarice Lispector, "Perto do Coração Selvagem"










[e se o coração sabe da mentira 
que a cabeça encerra,
o corpo sempre decide, 
a sós, por onde ir]






todos os finais são também começos










doces pássaros
trazes fiapos de sonhos
apertados contra o vento
construindo silêncios serenos
na escassez de paz momentânea
na realidade submersa
o tristonho aclarar
adversa  disputa contra o tempo
trazes fiapos de sonhos
nos dias por inventar



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

dignidade perante toda a emoção, ou falta dela.




«O tédio é pior que a angústia, é mesmo o contrário, quando se está angustiado não se sente tédio; e assim eu passava do tédio à angústia, da angústia ao tédio. Não, já não sinto tédio, não, não pode ser mais nada! Se bem que, lá no fundo, sinta que ela me espreita, me ameaça, e que me pode muito bem vir a crescer, a envolver-me, a atabafar-me. Ah, mas não, o mundo tem imenso interesse, imenso. Basta olharmos. Há gente que se contenta em olhar para as árvores, em passear. Aconselharam-me a passear. Mas esses passeios eram mais entediantes que o próprio tédio, mais tristes do que a tristeza. Oxalá que eu não torne a afundar-me no abismo do tédio. Olhar atentamente em redor, para o mundo; com a maior da atenções. Despi-lo da sua "realidade", lutar por experimentar, a cada passo, o espanto original.» 

Eugène Ionesco, "O Solitário"



[ às vezes não interessa mudar, interessa aceitar.e aceitando, é deixar andar...]



uma postura da alma


  Amor
é a chave mestra
que abre os portões da felicidade.

Oliver Wendell Holmes




(é...apoiar-se sobre o ponto superior escolhido)



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

preciso de sabores e ecos, de imagens e risos.



´ninguém disse
que os dias eram nossos
ninguém prometeu nada
fui eu que julguei que podia
arrancar sempre mais uma madrugada
ninguém disse
que o riso nos pertence
ninguém prometeu nada
fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma gargalhada
e deixar-me devorar pelos sentidos
e rasgar-me do mais fundo que há em mim
emaranhar me no mundo e morrer por ser preciso
nunca por chegar ao fim...♫♫

por outras palavras
 Mafalda Veiga & Susana Félix



[preciso daquele tempo que dá lugar
a outro tempo e que desfaz, aos poucos, o desalento]

.

e traz paz para fazê-la florescer no canteiro do mundo








se algum dia, esmagada pelo tédio,
eu te pedir o Sol como remédio à minha inquietação,
sorri como se eu fosse uma criança,
e não digas que não.
se algum dia, em noites de platina,
eu te pedir a Lua que ilumina do céu a nossa rua
e me deixa extasiada, boquiaberta,
as minhas mãos nas tuas mãos aperta
e promete-me a Lua!
e se ainda, perdido no horizonte,
o meu olhar partir de monte em monte e apetecer o mar,
tu que sabes, vês e podes tudo,
abrindo tuas asas de veludo,
finge que o vais buscar!

(Virgínia Victorino)


[abençoadas sejam as afeições
compartilhadas sem esforço]

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

e os olhos subtraíssem de outros olhos






 podemos carregar a inquietação
levá-la pela estrada até ao centro
das praças onde gritam.
ninguém  vai notar
e o que fizermos é apenas nosso
confirma-nos  rostos entristecidos
isso não faz sentido, dizem
porém, os que assim falam
não sabem que o presente
é passado e futuro
e que todo esse tempo nos completa
se o levarmos conosco,
tentando ser alguém nas praças esquecidas



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar
















o calendário que vale
tem datas secretas
primaveras de um dia

a noite chove estrelas
silêncio e melâncolia.

calo, e abro as asas



com as coisas que o vento traz




eu fiquei fria
eu segurei no meio da garganta
eu espero ser bem feliz
eu espero entender o por que de tanto tempo só
eu pretendo ler o livro que me deixaram na mesa
eu te amo
isso acontece
eu sabia que ia acontecer
não compartalhamos da mesma fome
mas da mesma doçura
achei belo
e foi
não tem como se enganar
foi muita doçura e riso compartilhado
eu não consigo chorar
sinto uma distância
se fica com o belo
se segue
com certo
estufamento no peito
meio as cegas
meio mágoa
meio entendimento
meio tentando achar paz
meio doendo pelo te amo
o fora estúpido
a foto no jornal
ficarei com os chocolates
o presente no fundo do armário
tentando preencher
ser sincera
com meu peito
com os pés
com as coisas que o vento traz
tentando entender
a escova de dente na minha pia
pedindo que não te encontre por muito tempo

Se faltar carinho, ninho
Se tiver insônia, sonha
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais
Se encontrar algum destino
Para solidão tamanha
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais
Se faltar carinho, ninho
Se tiver vontade, chama
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais
Se você ficar sozinho
Pega a solidão e dança
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais
Desaparecer no vento
E acordar num outro instante
Nó na imensidão do tempo
Dor do sentimento faz
Mas, se faltar a paz
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=TFom-ozMsT0#!


(eu poderia dançar a dor hoje)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

quando menina achava que o céu era perto







(...)gosto dessa sensação que me invade vez ou outra de que o pássaro que atravessa meu dia tem um canto só pra aquietar-me . posso dizer palavras simples. posso estar comendo um bolo com suco na varanda. que ele está lá. mas o meu pensamento é como o fio na agulha de uma mulher que costura por horas e horas tentando alinhavar a pele que lhe veste a alma, sabe? no fundo, é simples como uma sequência de coisas comuns com pequenos detalhes que distinguem um ponto do outro e despertam o desejo de mover-se entre lugares.  é uma  vontade de voar. aquela liberdade de não ter direção, ter profundidade e um jeito próprio de ser qualquer um no mundo, sem amarras, sem dissimulações. porém há melancolia. não vejo mais sentido em dizer as coisas que já disse e sei. queria vestir com palavras alegres meu silêncio, mas ele insiste em ser um menino nu que corre sem destino .  é a mentira que se repete como um filme vespertino. é a verdade que  permanece como minadouro desse mar que faz girar minha vida. permanece, permanece, permanece. o que é permanência e o que é repetição? só sei aos poucos. por isso digo e ouço o canto do pássaro que atravessa a vida e o sonho.




... somos continuação, somos infinitude, somos 
água corrente, água água água.  

Lya Luft

sábado, 19 de janeiro de 2013

eu que nada sei





porque
quanto mais
se solta, se prende.
quanto mais
se perde, se assanha.




...  por cada canto do mundo
lentamente indo
não tenho medo de nada
só tenho medo do nada... ♫♪









e de amar vive sendo



 partir-me em cacos tem seu charme, sua glória, me afia o desejo de ir adiante e enfeita com reflexos brilhantes minhas arestas transparentes.  porém, por mais que você se adentre, por mais perto que você chegue tudo se desdobra, tudo ramifica.faça um talho profundo, e a profundidade lhe escapa: o que se abre são novas superfícies, frescas e vivas. não há dentro, não há centro, não há fundo: quanto mais se olha, mais os detalhes dão cria, mais a complexidade viceja.

pique a partitura em mil pedaços, e a sinfonia é a mesma em cada nota.

mas basta um sopro. brisa mínima e quieta para ruir o palácio do nunca mais.

voltar  é uma quimera....

.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

meus erros erram bem para errar sempre





conhece alguém as fronteiras à sua alma,
para que possa dizer - eu sou eu ?
Fernando Pessoa










tire esse vazio de mim 
e ele fará uma falta danada. 
tanta coisa cai dentro 
que nem sei de onde vêm.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

tempos ímpares, espaços desiguais





ai que vontade de não-ser
ou então ser bem pouquinho
passar dias
passar horas
  pas-sa-ri-nho
ver através
de um pedaço opaco de tempo
e então, quem sabe,
a perspectiva



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

e o coração fugindo e o coração voltando





´tenho medo de dizer porque no momento
em que eu tento falar não só não exprimo
o que sinto como o que sinto
se transforma lentamente
 no que eu digo´
Clarice Lispector



(...)de vez em quando me deparo com esse silêncio interno, um silêncio alheio. da personagem que me fiz, só restou a estranheza.  se eu falo de amor é por pobreza de espírito.  é mendicância intelectual. é falta de crivo, é pouca leitura de jornal.  se eu falo de amor é por estar indisposta, por ser absolutamente banal. é por não pensar noutra coisa, é por loucura informal.  meu coração é feijão com arroz, repetitivo que só. bate por insistência, desconfio que seja por dó.  meu coração funciona aos trancos, deve ser perrengue no miocárdio.  se eu falo de amor é por luxo, é para exercitar o músculo e é um exercício árduo.  se eu falo de amor é que eu torço: assim quem sabe eu não ouço aquilo que eu não falo. do começo ainda não meço o que é tropeço ou o (in)verso. ansio algo pra ontem: `ter não sei-o-quê do voo suave´...consigo Pessoa?






reconheço pelo cheiro





´... as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. mas não podiam escapar do aroma. pois o aroma é um irmão da respiração. com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. e bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.´

Patrick Süskind in O Perfume



[a pele fina
 tateia 
por coisas
 que a 
marquem 
fundo]

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

voar é bom -ter onde pousar melhor ainda!-


"olhar para trás após uma longa caminhada pode fazer perder a noção da distância que percorremos, mas se nos detivermos em nossa imagem, quando a iniciamos e ao término, certamente nos lembraremos o quanto nos custou chegar até o ponto final, e hoje temos a impressão de que tudo começou ontem. não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros - digamos então que nada se perderá. pelo menos dentro da gente..."

João Guimarães Rosa






[que o amor a compaixão. a força e a verdade se libertem 
e sejam mais do que expressões inflamadas sob as pálpebras. 
que as amarras do medo não nos privem da liberdade de ser, 
 de agir, de errar ,de cumprir a realidade 
com os traços imperfeitos da perfeição]

esses sons tem asas




daqui de onde me encontro o som  perde o foco.

mas por aí tem som de mãe?
de quando o que se houve é apenas calma.
- alma

e os de água?
aqueles transparentes, limpos.
- às vezes

de conversa, tem?
flutuantes, denunciantes.
- existe

de saudade?
inquietos, nostálgicos.
- aqui!

- sót
emb
aru
lh
o




segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

faça luz onde há involução




´tentei
rasguei sua alma 
e pus no fogo
não assoprei
não relutei
os buracos que eu cavei
não quis rever
mas o amargo delas
 resvalou em mim
não me deu direito
 de viver em paz´



as palavras - vanessa da mata






desmantelo
-eis uma palavra terna, mesmo desarrumando tudo.

monturo (descobri na bíblia)
 -um monte de coisas velhas, sujas, líricas.

desmazelo
-palavra ingrata, cheira a abandono.

sinestesia
-a cor do som.

trenhada
- vocabulário mineiro, quer dizer: um amontoado de coisas inúteis(ou não).

maxacá
-vocabulário do sertão, quer dizer: sem jeito, desajeitada.

Amor
 palavra muito dita, com rimas pobres,
mas pode-se achar para ela uma rima toante,
com vogal aberta, não menos pobre: só.



[cada língua dá um nome para o que dá água na boca. difícil é traduzir o que te deixa sem palavras...]


que eu sempre respire o que me enche o peito


na avenida Brasil
pontualmente às seis em pleno domingo
todas as lojas fechadas
sento-me na calçada para assistir
ao balé de andorinhas
são milhares, trilhares em revoada
que mergulham sincronizadas
feito um cardume
para anunciar em coro
os cânticos que nos ligam
de um coração a outro

Ave-Maria!

domingo, 13 de janeiro de 2013

meu tempo é um arquipélago de perenidades

(...)quando percebo já é tarde demais. ou melhor, deixa de ser tarde ou cedo: sem mais nem menos o tempo foi suspenso e eis-me num momento sem fim, sem idade, momento conhecido meu antigo, momento do qual parece que nunca saí. estranho?? também acho. considerando que olhando de fora eu tenho certeza que pareço ser inteiramente sensível, bem-situada, bem-educada (sic) . é difícil de  compreender que no entanto você neste momento não é como as pessoas ao teu redor te sentem, e não é como você sempre vai se sentir. pode acontecer de  em 10 minutos , alguém  entrar no quarto e você vai ter mudado aparentemente por aquilo que esperam de você. não que não seja de uma forma sincera  (que você está tentando parecer uma pessoa alegre, cômoda) só que  assim você só existe quando alguém perto, entende? pois é, não parece razoável ter tido todos esses pensamentos que levaram a este texto sem pé nem cabeça. talvez sirva só pra mostrar que por dentro ainda existem sentimentos  derramando de algum vazio. mas tudo bem. continuo meio besta, caçando primaveras....





sábado, 12 de janeiro de 2013

para modificar nossos roteiros



roda mundo,
roda vida,
roda vento.
passa tudo,
passa tanto,
passa tempo.
rodopiam as cores
na eterna reticência
do momento.
entre uma volta e outra
do destino,
continuo apenas
uma menina
a soprar meu gira-sonho
como um cata-vento.

Flora Figueiredo




(linhas paralelas se encontram no infinito)

fios em brasa






e por vezes as noites duram meses
 por vezes os meses oceanos
e por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
e por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
e por vezes fingimos que lembramos
e por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
e por vezes sorrimos ou choramos
e por vezes por vezes
ah por vezes
num segundo se envolam
tantos anos.
David Mourão-Ferreira






[dos meus olhos, 
da minha pele, 
dos meus ouvidos 
tão sedentos 
que fique ao menos 
minha sede para semente]

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

o dia e seus pedaços de horas e esperas



aqui nesta praia onde
não há nenhum vestígio de impureza,
aqui onde há somente
ondas tombando ininterruptamente,
puro espaço e lúcida unidade,
aqui o tempo apaixonadamente
encontra a própria liberdade.

Sophia  Andresen











com carinho dedilho
as minhas linhas, minha teia,
os fios que eu estendo
entre tudo que me prende,
e balanço sobre abismos
que hoje sopram ventos frescos






quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

meus olhos diluem as coisas







dia de chuva. boa possibilidade do destino irremediável brincar nas linhas casuais do inesperado.mas fica por conta do mito, da lenda de eu ser avoada e ter a cabeça na lua (talvez nem percebam mais lapsos inteiros em que simplesmente desligo)

é mais forte do que eu. quando percebo estou longe, ou melhor, o que está perto recua, evanesce.

onde eu vou nem eu sei. são as coisas que vem, coisas em que me ligo.conjuntos de possibilidades por entre as camadas do real e do imaginário...sonho que se sonha só.

meus vitrais em pedaços







deixem-me dizer-vos neste momento
que não fazer nada é a coisa mais difícil do mundo,
a mais difícil e a mais intelectual.

Oscar Wilde











minhas arestas e o meu contorno
sonham com o quebra-cabeça
onde se encaixem,
com a história longa em que terão sentido

tolice, claro.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

debaixo dágua ficaria para sempre . ficaria contente






Cecília Meireles me acalma num dia inquietante :
"O verso equipara-se às braçadas no oceano. Trata-se de um processo respiratório, de controle de ar. Mergulhar na sensação e subir a tona para respirar. Uma conclusão afetiva do fundo sucedida por uma observação prática da superfície. Subir com os olhos para prever o ponto em que se nadou e novamente mexer os braços em direção ao fundo. Inspirar, respirar. (...)"


[acabei me lembrando de uma cena no final do filme Naúfrago com o Tom Hanks em que ele fala:
- Eu sei o que preciso fazer. Eu preciso respirar.]

enfim acho que é bem isso. alguns se sentem bem no fundo do mar. outros são "peixes de superfície". mas no final estamos todos no mesmo oceano.

Todo dia / Todo dia, todo dia / Todo dia respirar...


vou pra debaixo d´agua.




terça-feira, 8 de janeiro de 2013

eu aceito enternecida o que me é dado







a cura pra tudo é sempre água salgada:
o suor,
as lágrimas,
e o mar.


.

não há nada nas entrelinhas, só espaço para ressonâncias




a porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
e sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
e os meios perfis não coincidiam.
arrebentaram a porta. derrubaram a porta.
chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
era dividida em metades
diferentes uma da outra.
chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
nenhuma das duas era totalmente bela.
e carecia optar. cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

-Carlos Drummond de Andrade





(sempre há a possibilidade de troca de energia
entre sistemas oscilantes, creio eu)





´...a  ilusão é pensarmos que aprendemos por meio da verdade.
 estude todas as mentiras  e encontrará a verdade relativa do mundo que vive...´

- Eric Ellwanger

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

e os olhos que escan(cara)


´




...a tendência do azul para o aprofundamento torna-o precisamente mais intenso nos tons mais profundos e acentua sua ação interior. o azul profundo atrai o homem para o infinito, desperta nele o desejo de pureza e uma sede de sobrenatural.  é a cor do céu tal como se nos apresenta desde o instante em que ouvimos a palavra céu´





 Kandinsky - pintor  pioneiro do abstracionismo






a atitude blasé...

de chapéu, óculos d lentes blue
para que não notem os olhos
salpicados em conta-gotas
olhos lúcidos
descentrados
dissimulados


ela diz que
faz calor, que vai chover,
qualquer coisa que não diga nada,
e se (despe)de anárquica
da tarde inteirinha azul

.

domingo, 6 de janeiro de 2013

o dia que nasce se unge de intimidades





olharei as coisas com amor
e renascerei
amarei o sol, pois aquece o meu corpo
no entanto, amarei a chuva,
pois purifica o meu espírito
amarei a luz,
pois me mostra o caminho
amarei também a escuridão,
pois me faz ver as estrelas.
receberei a felicidade,
que engrandece meu coração,
mas tolerarei a tristeza,
 pois abre minha alma
receberei as recompensas
pois elas me pertencem,
mas também aceitarei
de bom grado os obstáculos,
pois eles são os meus desafios
a partir de hoje ,
olharei as coisas com amor
e renascerei

Og Mandino






a leveza e a alegria

C.G. Jung protegendo sua alva pele sob a sombra de um chapéu panamá.

manhã de domingo: apassarinhei-me... 
alegria é brincar nas poças de sol.
m.m..soriano



[que delícia esse tumblr que reúne fotos de pensadores,
artistas, escritores e tudo mais de lindo e intelectual na praia!
 Love them. Love praia.]

http://intelectuaisvaoapraia.tumblr.com/


´fluir com a vida 
quer dizer aceitação:
deixar chegar o que vem
e deixar ir o que se vai´
Maharaj

( foto: C.G. Jung protegendo sua alva pele sob a sombra de um chapéu panamá)

sábado, 5 de janeiro de 2013

da permanência das manhãs






(...) já parou pra pensar que tem certas coisas que acontecem assim  num piscar de olhos, onde  nos falha a memória. em um instante sem tempo a realidade nua e crua desperta?? ------que será que me dá?? saio cedo para caminhar. o mar está agitado. sinto tua vibração. ele tem se esforçado  muito para me mostrar  a descoberta interior que desdobramos todos os dias, quando sol se derrama sobre os nossos olhos. me mostra na verdade,  que até mesmo o fato do sol se derramar, é uma descoberta. me ensina a  fazer de tudo para entrar em evolução (e não revolução com os pensamentos), e utilizar dos recursos da natureza, das palavras e dos sentimentos (que deixaram de ser abstratos há tanto tempo), para que esse movimento eterno continue fluindo. me diz pra ter paciência. evoluir e descobrir-se nunca foi algo planejado, incrivelmente arquitetado para que dê certo . ele simplesmente segue seu fluxo que, é o movimento mais puro do ser humano. talvez a pureza esteja mesmo aí, na caminhada para algo melhor, infinitamente. quem sabe?



.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

nunca será verdade aquilo que não se acredita

quem chega
no centro da essência,
no meio do mistério,
no íntimo do silêncio
e das palavras re(veladas)
ganha um mundo
e perde os sentidos.


eu quis querer o que o vento não leva
pra que o vento só levasse que eu não quero
eu quis amar o que o tempo não muda
pra que quem eu amo não mudasse nunca

eu quis prever o futuro, consertar o passado
calculando os riscos bem devagar, ponderado
perfeitamente equilibrado

até que um dia qualquer,
eu vi que alguma coisa
mudara
trocaram os nomes das ruas,
e as pessoas tinham
outras caras
no céu havia nove luas
e nunca mais encontrei minha casa

no céu havia nove luas
e nunca mais encontrei minha casa

(Herbert Vianna)

Aonde viessem pousar os passarinhos



(...)quando sol se derrama sobre os meus olhos. da cisão de meu ser, da discórdia do meu eu, da contradição intima, nasce o duplo, a Outra que me habita, tão próxima e desconhecida.  nasce para o tédio vencido ao estalar os dedos.  para o meu momento perdido no espaço entre as palavras em que, raramente, consigo voltar à tempo de acompanhar a realidade.  para as estradas construídas nos espaços oníricos, nas fotografias tiradas . para os amores que nunca aconteceram, para as paixões avassaladoras.  para as tardes perdidas, para os beijos ganhos.  para o sexo ausente (ou presente), para a carência latente nos dias de domingo, para os banhos de chuva, para os dias de sol.  para o meu coração acelerado, para as lágrimas e o seu ciclo vicioso, para o cinema gelado, para as músicas do por-do-sol.  para o quase anoitecer, para a minha noite, para minhas mãos, para minhas cores, para o meu mundo, para minha vida, para o meu transbordar, para  o desejo que duvida, a ação que vacila, a fala que gagueja. para os suspiros apaixonados de todas as manhãs desprevenidas que transformam tudo em uma eterna primavera  entre aquele vidro e aquela gotícula de água, que desde muito tempo estavam marcados para se fundir e desenharem, da sua forma, a sua breve história de amor. dentro da eternidade e a cada instante enfim. tudo  são poeiras ao vento.....

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Nuvens leves... Nuvens leves... Nuvens leves



 ....e por trás de tudo um coração voraz , porém tenho percebido que a cada pensamento que chega a mim significa o mecanismo do qual se vale a minha mente para recriar o mundo ilusório dos problemas. portanto, cada um dos meus pensamentos é uma memória que precisa ser limpa ou apagada, aprendi que pronunciando palavras que ativam cristais de amor em meu interior consigo me sentir mais leve.


aprendi que as pessoas só aparecem em nossas vidas para mostrar-nos se estamos dentro ou fora do caminho em nossa própria vida. na maior parte do tempo não sabemos se estamos ou não, por isso necessitamos mudar constantemente.





terça-feira, 1 de janeiro de 2013

.


ela olhou o mar. o mar olhou pra tudo aquilo ao seu redor: os barcos que deslizavam docemente sobre suas águas, os peixes que se apressavam dentro do seu íntimo, a linha do horizonte delineando-o levemente, os pés  sendo beijados pela sua branca espuma, as nuvens formando graciosos desenhos e o céu pintado por todas as cores de um lindo crepúsculo. depois de suspirar admirando tudo aquilo, se emocionou  ao (re)descobrir que também fazia parte daquela delicadeza de Tempo e pôs-se a rezar. o amor também é mar.