segunda-feira, 30 de maio de 2016

Onde o medo não cabe,









ninguém nota que sua mente é atormentada com dilemas e nem ninguém quer saber disso. virou à esquerda, direita, andou em círculos e se perdeu feio, perdeu tempo mas, olhando em torno, acho que não se perdeu de si. o que fica de um dia você só avalia no outro, ou nunca, ou anos depois. memória é um prato que se come com calma,
con mucho gusto.. 



 "C'est la vie"









domingo, 29 de maio de 2016

sua maneira de evitar as infiltrações





com tanta desestabilização emocional, percebi que quando não tinha mais nada a perder emergiu de dentro de mim o espírito de aventura.  porque há estados de alma tão incandescentes que abordá-los é simplesmente renovar seu ardor e arder. alimentar sua capacidade de fogo e danar-se.   só é possível, então, afastar o olhar, olhar para outra coisa, fazer de conta que ainda resta algo no mundo que as chamas não consumiram, até que o tempo, única força realmente invulnerável, capaz de afetar sem ser afetada, faça seu trabalho e o que era brasa viva seja por fim o tênue eco de um calor, uma cinza inofensiva....





sexta-feira, 27 de maio de 2016

é semelhança em toda parte





um mundo à parte enche agora as suas mãos e empurra o seu destino. teve o desejo de silenciar tudo, muitas vezes, entre todos os sonhos, de medo do barulho do não-sonho. teve o desejo de amar quantas vezes o amor nela ressuscitou. teve o desejo de deixar certezas para conhecer incertezas do grande mundo, do além-mar .   no desvio da aurora ela se esconde para segurar nas mãos as luzes sonegadas . teve o desejo de reescrever outros sonhos, poemas, redesenhar e repintar outras-mesmas delicadezas, belezas, mentiras e verdades que se-lhes espreitavam a séculos tantas vezes quantos anos teve ali na transparente caverna onde ela se esconde com o farnel das promessas a ventura edificando.   e na sua ânsia de decifrar o delicado enigma talvez pudesse dar- lhe um lugar qualquer mais adiante, despir-se de pudor por um instante e deixá-lo cobrir-lhe como um manto....





quinta-feira, 26 de maio de 2016

toda a carícia toda a confiança sobrevivem










ao som do silêncio a Alma ouvirá e poderá recordar-se 'aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti conhece (porque é o conhecimento) não é da vida transitória'. a janela é um rasgão no tecido de pedra, por ela a luz entra , o olhar se expande e respira a casa no passar dos tempos, no abandono das gentes rasga-se o tecido que a sustenta. já não casa, já não janela, já não olhos por onde olhar e  ao ouvido interior falará : "perdoe o medo assim como quem 
se abstrai de uma agulha..."








quarta-feira, 25 de maio de 2016

luz que nenhum vento pode apagar e que arde





alguns dias nos deixam sem fala, sem verbo, colunas no teto do tempo. até que chega um filho despossuído pelo silêncio e derrete o monólogo já que para si mesmo a sua própria forma parece irreal (como o parecem, ao acordar, todas as formas que ela vê em sonhos).   a noite pinga, ganha o impulso das rotações e põe galáxias em comunicação na linguagem que descobre meteorito ensinando-lhe que quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata o exterior .  a sua Alma sorriu ao banhar-se
ao sol da tua palavra.







conjuga um verbo 
que conheças 
no presente 
do indicativo, 
 soletra-o 
na segunda pessoa 
do singular
 ao meu ouvido, 
 dá-me qualquer coisa 
que me pareça eterno. 

 José Rui Teixeira

domingo, 22 de maio de 2016

traça e traduz



vozes
embargadas
perscrutando
labirintos
e abismos
escondidos
sonhos
descobertos
paraísos
e sentidos
resplandecentes
nos instantes
que cintilam
e tão rápido
se esvaem.




sexta-feira, 20 de maio de 2016

quinta-feira, 19 de maio de 2016

coisas anteriores às palavras...




  as ondas quebravam uma a uma.   vestia a alma por fora e paria sonhos por pura teimosia, só porque achava que devia continuar a respirar.   mas os sonhos, também teimosos por mal paridos ou por outros tropeços do caminho, iam-lhe morrendo no voo e tapando a alma que queria o sol.   exaurida, trocou a última réstia de sonho por um lampejo do futuro que não via.  o mar cantou para ela.










quarta-feira, 18 de maio de 2016

de la combustion non contrôlée...








adormeceu
arrebatada
pelo
desejo
de
uma
 carícia




'e quando explode, 
quando me morde
aí sim, é pior 
que tudo,
porque eu quero, 
hum hum, 
cada vez mais.'




sábado, 14 de maio de 2016

a vida como um barco à deriva






começar porque
 nada existe antes
 de começar..

....

eu sei, raramente podemos ser
o que queremos ser


....




....









quinta-feira, 12 de maio de 2016

a concentração no sentir











(...) estava de pé , docemente agressiva , no ponto de ônibus, sozinha no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. a vida era fascinante, era outra, descoberta com sobressalto, perplexa.  num equilibro frágil sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dela . e se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? tentou por instantes mas logo sufocava. o jeito era mesmo esperar, esperar. talvez minutos apenas, talvez horas, enquanto  sua sede era de anos....


(clarice l. por mim)







terça-feira, 10 de maio de 2016

eu sou um mistério para mim





hoje não quero desvencilhar dos meus nós. as ruas são retas, claras e vazias  mas eu gosto é das curvas e das voltas.
.
.
.
.
.
.
,
.
até cortar os
próprios defeitos
 pode ser perigoso.
 nunca se sabe qual é
 o defeito
que sustenta nosso
edifício inteiro.

clarice lispector

domingo, 8 de maio de 2016

Olhando mais apuradamente....



a liberdade é pura observação sem direção. sem medo de punição e recompensa.
 a liberdade é 
sem nenhum motivo.






sexta-feira, 6 de maio de 2016

O sorriso que me deste





(...) minha mãe dizia quando me percebia chorando que a batata crua, cortada, pode ser esfregada nos olhos para amenizar inchaços e olheira. e acrescentava: fique calma, a dele tá assando!!
 ela conseguia me fazer rir.    Mãe Nina seja como for, seja como flor... porque em meio ao meu desequilíbrio a tua paz me faz flutuar.
(saudades eternas)






aproveitem bem 
o dia  mamães! 




segunda-feira, 2 de maio de 2016

raios de sol são indispensáveis





quando enfim me encontrei vieram as ressacas. de papel de um livro esquecido, de café em diálogos monossilábicos, de pipoca em cenas opressivas que desgovernaram as poucas verdades e me abriram um sorriso. afinal, como jogos de puzzle , a graça está em construir e desconstruir ...