quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um gosto doce e urgente












é bom, às vezes, se perder sem ter porque,
sem ter razão é um dom ...
saber envaidecer, por si,saber mudar de tom.
quero não saber de cor, também, para que
minha vida siga
         adiante.

[los hermanos]



Quando o significante remete ao significado







A agenda não age por você,
anota uma ação para não esquecer.

A bússola não aponta um caminho certo,
 só ajuda na localização.

A mãe não cria um filho para si,
o mundo fará parir o seu destino.

O carro não guiará sozinho,
mas as viagens lhe trarão mobilidade.

O avião não decola por ser leve,
 suas asas que o sustentam no ar.

O amor não perde a direção,
paixão é o pior cão de cego que há.

A calculadora faz suas somas,
mas quem presta as contas é você.

A lavadora só lavará roupas sujas
se forem trocadas em miúdos.

A vida continua quando a morte deixa,
questão de saúde e sorte.

O pente induz a eletricidade estática,
não move um fio sem a mão.

O pênis só irriga até a cabeça se,
erguida, não falhar seu coração.

O tempo assa carne,
o pó da ampulheta salga o ser, bem passada.

A hora de viver já está programada,
 os ponteiros são duas pontes.

A travessia se dá entre abismo e monte,
 alcançará o que escolher.

A chegada será quando se der a partida
 ou ao se puxar o gatilho.

Paola Benevides



Amor de índio by Maria Gadú on Grooveshark

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dias não prestam contas

Use of Light
(...)havia momentos em que eu tinha a impressão de compreender algo naquele mistério. 
outras vezes, caía na indiferença, na apatia, na amargura até, e esquecia a minha curiosidade,
não encontrando resposta para nenhuma das minhas questões.
 às vezes - e isso acontecia com frequência crescente - experimentava uma estranha
 necessidade de ficar sozinha e pensar, pensar, sempre.

às vezes sinto com angústia intima as raízes obscuras e profundas do que me precedeu e que sustenta.
algo que ao mesmo tempo proclama o vindouro que mesmo desconhecido tende a regressar pois minha
escolha foi feita muito antes de ter consciência dela....

difícil não colocar semanas na balança.  não cobrar de cada dia uma perola. um ganho. um avanço.
algo que pese na palma da mão. para que no fim das contas o tempo que foi não pareça vão.


se conseguires ser leve...aproveita!


02-Balada de Agosto by Fagner & Zeca on Grooveshark

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mergulhar em um mar de flores







e a vida vai e vem...
 na ternura com que olha a terra,
na abertura com que recebe o ar.


"... somos livres para nos libertar..."














sábado, 23 de fevereiro de 2013

Dos reflexos condicionados





Por Quê. Ao mesmo tempo que se pergunta obsessivamente por que não é amado, o sujeito amoroso vive na crença de que, de fato, o objeto amado o ama, mas não lhe diz.

'... mas por que afinal você não me ama? Como pode alguém não amar este eu que o amor torna perfeito (que dá tanto, que faz feliz, etc.)?'

'(Eu te amo torna-se você me ama. Um dia, X... recebeu orquídeas anônimas: imediatamente alucinou-lhes a origem: só poderiam vir de quem o amava; e quem o amava só podia ser quem ele amava. Somente após longo tempo de controle é que consegue dissociar as duas inferências: quem o amava não era forçosamente quem ele amava.)


fragmentos de um discurso amoroso
Roland Barthes



[o amor não é desculpa para desistir]


Vida real (Dejame ir) by Djavan on Grooveshark

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Aquietar um pouco a vida


レo√乇 ღ





Nunca veja o mal em ninguém, veja o bem.
Mesmo quando o mal for demasiado, tente encontrar o bem.
Porque é impossível se encontrar um homem que não tenha nenhum bem em si.

E o que quer que você veja, cresce em você


Osho










Uma canção:

´é mais fácil viver
de sombras que de sóis
´é mais fácil
mimeografar o passado
que imprimir o futuro´


Minha Casa by Zeca Baleiro on Grooveshark



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Então depois do medo vem o sossego





percebo no rito
o meu grito contido
o meu vulto marcado
num cântico calado.
percebo no grito
o meu rito inserido
no cântico calado
do meu vulto marcado.
e me perco no silêncio
e no ranger
da porta do quarto
quando a lua
invade a penumbra
e o meu corpo
se desfaz...


apenas sob meus pés e pele






Eu disse, à criatura sedenta dentro de mim,
que rio é esse que desejas atravessar?
Não há viajantes na estrada que leva ao rio, e não há estrada.
Vês alguém caminhando junto à margem, ou se abrigando ali?

Não há rio algum, nem barco, nem barqueiro.
Não há corda atada ao barco, nem alguém para puxá-la.
Não há chão, céu, tempo, banco de areia ou vau!

E não há corpo, nem mente!
Acreditas que existe algum lugar capaz de aplacar
a sede da alma?
Nessa grande ausência, nada encontrarás.

Sê forte, então, e penetra teu próprio corpo;
ali tens um lugar sólido para os teus pés.
Pensa nisso com cuidado!
Não te desvies noutra direção!



Kabir diz isto: apenas te desfaz de todo
 pensamento sobre **coisas imaginárias
e te mantém firme sobre aquilo que és.

—–

O poeta místico Kabir viveu na Índia de 1440 a 1518.




**aqui usado no sentido de ilusão



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Doçura é a maestria dos sentimentos

.








me acostumei a dubiedades, 
a paradoxos, 
à margem de manobra 
que a incerteza dá
cultivo o sorriso
no meio da tristeza

 e celebro todo dia o meu direito de ser boba...











E o tempo lavra na pele as linhas do meu caminho.



No caminhar tranqüilo de cada manhã

Com a paz da verdade contida na tranqüilidade

...

É certo que o há mentiras diárias nas relações de encontros

Mentiras de ontem, mentiras de hoje e mentiras que existirão

Por vício, por vaidade, por carência ou fraqueza
=
Ou até por um pouco de cada

Por tudo ou por tão pouco



Mentiras não conseguem correr e chegar à frente sempre

Mentiras são presas nuas



Aprecio a verdade que traz conforto

E acima de tudo

O caminhar tranqüilo a cada manhã que desperta


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Linha de Rumo

...........yours ღ



Quem não me deu Amor,
não me deu nada.
Encontro-me parado
Olho em meu redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.
....
de Ruy Cinatti



amar, não pode ser um instinto de sobrevivência nem do corpo, nem da alma. 
ninguém muito doente de alma pode ser impelido a amar, apenas porque sofre. 
amamos porque aprendemos a amar. não partilho que se ame porque se é solitário. 
uma alma pronta para amar, tem que sentir uma imensa companhia de grandiosidade interior, 
o amor que pode dar e transferir ao outro. sentiremos muitas vezes sozinhos, sem a mão, 
sem o tronco, verdade que sim, mas nós só somos seres verdadeiramente solitários 
enquanto não descobrimos em nós, a nossa capacidade de amar. 
faço exercícios diários para que a beleza sobreviva nas profundezas da minha alma,
à flor da minha pele, e na ânsia de que o tempo chegue .....




´para viver de verdade, 
pensando e repensando a existência, 
para que ela valha a pena, 
é preciso 
ser amado; 
e amar; 
e amar-se
ter esperança; 
qualquer esperança´

Lya Luft


Mudança Dos Ventos by Nana Caymmi on Grooveshark

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Com leves fricções de esperança

[Praia4.jpg]



abria os braços e tinha o tamanho exato da praia
fechava os olhos e era da mesma matéria que o mar
sentia na veia a fúria da água salgada
na beira da praia
a menina



na beira da praia
a mulher
que busca os mesmos sonhos de criança
 que sente ao afundar os pés na areia
que nada mudou
 que pertenço a ele
 ele é todo meu




Gota d'água by Chico Buarque on Grooveshark

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Nada, senão o instante, me conhece










"Quando as condições
são suficientes,
as coisas se manifestam.
Quando elas não são suficientes,
as coisas se retiram.
Elas esperarão
o momento certo
 para se manifestarem
de novo."



















[o tempo é um presente.  
os anos ensinam coisas
 que os dias não sabem]





quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A vida que quer se superar, tem sede do seu oposto...


.
às vezes eu acho que quem muito espera se esquece que o agora tem muito tempo para dar. perde-se (ou nem conseguimos) o refinamento que poderia nos tornar mais sensíveis pela música, pela arte, pela reflexão filosófica, pela percepção mais ampla do que nos cerca. e, muitas vezes, seguimos, comendo, trabalhando, dormindo, indo ao banheiro... todos cercados de bestas (no sentido de animais de carga sem capacidade de refletir) que fazem o mesmo e nos dão a certeza de que isso é o que viver. o fato é que quando nos damos conta vemos que extraído pouco do Tempo. o que nos resta é essa rotina que nos reduz a bestas metódicas. a vida apenas, sem mistificação....




´Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
porque o amor resultou inútil.
e os olhos não choram.
e as mãos tecem apenas o rude trabalho.
e o coração está seco.
em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
és todo certeza, já não sabes sofrer.
e nada esperas de teus amigos
pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
as guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
chegou um Tempo em que não adianta morrer.
chegou um Tempo em que a vida é uma ordem.
a vida apenas, sem mistificação`

Carlos Drummond de Andrade







quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

a realidade no sonho

soraya by sam lI


ainda que
o que me instigue o corpo
seja breve
seja novo
será sempre
a lição sem fim
de redescobrir paraísos
perdidos
dentro de mim

(c.M)









segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

eu me viro do avesso para ver o que tem dentro

.



é preciso não esquecer nada
nem a torneira aberta
 nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

é preciso não esquecer
de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

o que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome,
o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.

o que é preciso esquecer
é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

o que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco,
pois o resto não nos pertence

. Cecília Meireles.







sozinha, eu me apago aos poucos. não acompanho a velocidade do mundo.  não sei parar. vou e venho por não saber além do que me resta. meu lugar é perto do fogo, junto a todos os que fogem da treva e se sentam tranquilos em torno da chama.  faz tempo que ardo. sou tição desconfiada, receosa que o vento me apanhe como cinza.  esta chama é lenta, ainda tem muito lume para fazer.  lá fora o corpo faz-se, umedecido pelos dias. se eu não me soubesse até não repararia na tenacidade da minha sombra.   meu incêndio é esse : ser fiel ao que me arde.


Caminho das águas by Maria Rita on Grooveshark

sábado, 2 de fevereiro de 2013

para se reconstruir, é preciso demolir construções

kesler tran













...eu quero
o mapa das nuvens
e um barco
bem vagaroso

a sombra que vem de dentro




(...)esses meus dias em  que  vi a fonte dos meus incêndios, o vento vivo nas minhas brasas(e como dói), tenho pensando bastante na dimensão terapêutica do perdão. não perdoar é estar como que atarracado, preso a correntes, liames fluídicos que encarceram a afetividade e provocam graves transtornos. e não falo  só do perdão aos que nos feriram, falo do perdoar a si mesmo . pois bem, com a maturidade , acreditamos que se relacionando com pessoas também maduras, certas condutas são explícitas. mas...ha pessoas e pessoas. muitas  delas presas em nefastas recordações, trazem à tona sentimentos até então retesados, cheios de rancor e fel, revestidos de amor/saudade. consequentemente, desenvolvem um estranho problema de "vista": veem o mundo com lentes   cinzas e oblíquas. dizendo-se tristes, tornam-se  inacessíveis, vivem com a mente fixadas no passado doloroso e com o tempo assemelham-se a um cômodo fechado e mofado. resguardam-se numa capa de indisfarçada indiferença para não demonstrarem que também querem ser amados, que também sentem sede de convivência, mas estão com medo. um medo paralisante de serem feridos novamente e consequentemente fere o outro quando demonstra ser o que não é(mas que por tempos mínimos gostaria de ser).  menospreza a oportunidade do recomeço superando o problema íntimo da culpa, esquece que procurando reparar as arestas deixadas é postura de grande mérito. o  amor pode curar grandes feridas.  posso desfazer o mal com a prática do bem.  perdoando posso seguir por trilha mais iluminada e fortalecida pela paz de espírito e redirecionar a emoção. construir novos laços de afetividade, mais equilibrados e saudáveis.

como são lépidos os pés de quem é leve de espírito,
de quem tira por menos, de quem perdoa.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"Por te falar eu te assustarei e te perderei? "


     


Os pensamentos sobre as coisas existem nas próprias coisas sem se prenderem a quem as observa; os pensamentos sobre as coisas saem delas como o perfume se desprende da flor, mesmo que ninguém a cheire, mesmo que ninguém saiba sequer que essa flor existe... o pensamento da coisa existe assim tanto como a própria coisa, não em palavras de explicação, mas como outra ordem de fatos; fatos rápidos, sutis, visíveis exatamente por algum sentido, assim como só o olfato percebe o perfume da flor.

Clarice Lispector