quinta-feira, 30 de junho de 2016

onde me conheço







queria que fosses tu uma enorme obra de arte 
e eu tateasse com todo o meu corpo 
sôfrego e cego.







domingo, 26 de junho de 2016

ao mesmo tempo irrompendo coisas lindas....



por hoje ser domingo, falemos de ternura, do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve no tempo mais antigo. apaguemos  o sorrindo com ironia e cultivemos a doçura no fundo de um alto segredo que os restitui do futuro. falemos do desejo, de doces mãos irreprimíveis. sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas, os sonhos encontram seu inocente jeito de durar contra a boca delicada rodeada em cima pela treva das palavras. digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta do gosto, o entusiasmo do mundo. descobrimos nossos corpos que se protegem e sorvem, e o silêncio admirável das fontes. pensamentos no espaço sideral de alguma coisa celeste como fogo exemplar. digamos que dormimos agarrados, e vemos as fadas um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores azuis, e temos memória e absorvente melancolia e atenção às portas sobre a subespécie dos dias gris.... 
(...)





quinta-feira, 23 de junho de 2016

Viver de forma a querer a mesma vida sempre

      


 sim. eu bendigo o momento raro em que sou toda ouvidos, toda tato, toda olhos. toda tua. bendigo o momento em que o   presente me enche a boca.





(..)é preciso que 
se embriaguem 
sem descanso.

Com quê? 
Com vinho, 
poesia ou virtude, 
a escolher. 
Mas embriaguem-se.
Charles Pierre Baudelaire


muito.muito.muito
https://www.youtube.com/watch?v=pep-77e2KWY



terça-feira, 21 de junho de 2016

por isso não há paradoxo ou ironia



um dia frio de domingo teve um êxtase. foi diante do mar tão calmo que no olhar ela nunca poderia abraça-lo. a graça e o jeito eram tão fortes e visíveis que pareciam saltar das formas . ela se sentia em uma espécie de êxtase (des)controlado.de uma forma nunca antes experimentado. mas apesar do êxtase ela conseguia correr. sim. o misterioso mar de todos que ali estavam lhe dava às vezes um estado de graça. feliz, feliz, feliz. ela de alma quase voando (e também vira gaivotas) tentara contar a ele mas não tivera jeito, não sabia falar e mesmo contar o quê? o êxtase? o ar que lhe preenchia e lhe ultrapassava? não se conta tudo porque o 'tudo' é um vão inexplicável. as vezes a graça a pegava em pleno despertar....






sexta-feira, 17 de junho de 2016

afinal somos feitos de regressos





não dormia sem procurar o amor, sem beijar na testa a noite que acabava serena e exausta como ela.   e se te consome o frio, quando assola, seja meu o cobertor do teu aconchego. a salinidade imaginária dá um alento redobrado ao mel dos nossos sentidos.
no que é que eu acredito?  no mistério do amor, sendo maior que a morte e mais leve que o sono. amanhã alegro-me de novo. imagino o sol, jogo o espelho e recomeço a ir ao teu encontro...



terça-feira, 14 de junho de 2016

O lento acordar das vozes submersas






dentro de si todo o possível se eterniza, vive sempre mais que o realizado. o inverno a deixava inquieta. ficar fechada em qualquer ambiente a angustiava, precisava de uma brecha para respirar. saiu a caminhar e de rosto em rosto a si mesma procurou e só encontrou a noite por onde entrou finalmente despida, a insanidade acesa e fria iluminando o nada que tanto procurava....





sábado, 11 de junho de 2016

o abrir de portas a palavras e prazer



vivemos de palavras e suas interpretações. vamos até à escavação mais profunda com palavras. reduzem-nos à obediência,subjugam-nos. pesam toneladas, têm a espessura de vidros blindados.são as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem.as palavras não devem ser só preliminares. a língua não existe apenas para falar....




quinta-feira, 9 de junho de 2016

o que eu vejo quando olho ?


.





nos lugares retorcidos da minha mente é produzida a mentira, que surge com sabor de protetora, nela me acomodei tantas vezes e me tranquilizei.  sim, encontrei proteção no que é temporário (mas o caminho para o centro não é reto nem é longo nem é algo que se ensine). é por isso que nos rodeamos com o meio ambiente que queremos. e queremos para proteger a imagem de si mesmo que temos feito. as emoções que mais me ardem , são as que julgo mais absurdas , a ânsia por a ânsia de coisas impossíveis ( porque são impossíveis), a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a insatisfação da existência do mundo. situações e coisas que nos fazem acreditar que somos parte do lugar onde pensamos estar porém o caminho para o centro é deslize, é tropeço, é não se dar conta de como se chegou lá. o caminho para o centro passa por onde o chão desaparece sob os pés. é estar naquele que percebe ao invés de estar no que é percebido....






'nascemos, e nesse momento
é como se tivéssemos firmado
um pacto para toda a vida,
mas o dia pode chegar
em que nos perguntemos
quem assinou isto por mim.'

ensaio sobre a lucidez
- José Saramago

quarta-feira, 8 de junho de 2016

entre a folha e a raiz





quando a pressa alcança a pressa fico nua de significados. pertenço ao espaço entre o instante e o passado (não tenho grandes sonhos para o dia mais feliz). a mente encosta a mente e traz essa incerteza cristalina que embaça as lentes dos meus óculos quando olho pra algum relógio . caem os nomes do contraste no centro que se expande e nem súplica nem negativa perturbam a evidência geral (corpos não se opõem mais). guardei a luz que deixaste cair quando as tuas mãos se fecharam em volta do teu coração...




terça-feira, 7 de junho de 2016

A metonímia






 com um toque na nota certa, todas as cordas vibram sonora com as mesmas digitais. sufoco as marcas do tempo me tatuando (por dentro). falo o que os lábios calam quando teu verbo discorre sob  meu vestido...pesponto teu corpo tecido em mim.








sábado, 4 de junho de 2016

Isenta de coordenadas





no centro de um infinito de perspectivas, esperanças e probabilidades  flores voam pelo céu sem destino certo, sem vontade de chegar. pairam soltas pelo ar, arrastadas pelo vento, despidas pelo sol e vestidas pelo entardecer. fogem-me por entre imagens velozmente deixando as cores por arrasto e os cheiros por suspenso. já não têm a mesma magia que antes, tenho que correr para colher e mesmo assim já não consigo tocar. voam para onde habitam todas as possibilidades, todas as hipóteses, todas as escolhas. agora há outro momento....




quinta-feira, 2 de junho de 2016

entre a saliva e os sonhos





caminho impoluto
onde a memória 
me move.
quanto mais 
avanço, 
mais nítido fica 
o que deixo 
pra trás.