segunda-feira, 8 de julho de 2013

A ex-pressão de quem não/ de quem sem...




No retrato que me faço
— traço a traço — 
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore.

Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança…
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão…

E, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!
 tem dia em que companha-me a aridez lá fora e o deserto entranhava-se cada vez mais em mim. a inquietação por um tempo  foi esquecida quanto um vento morno  bateu no meu  rosto . Suspirei e senti um desejo imenso  dar uma volta pelos telhados, quando tudo estiver dormindo, pessoas, coisas, gatos, pássaros.  Não será nada como voar e não haverá nada de metafórico neste passeio, apenas algo que se pareça com uma afirmação, determinada apenas pelo que dela e das suas implicações se desconhece. Pela rua, parece-me tudo cada vez mais difícil, mais frases sem predicado, sujeitos bizarros e indefinidos por inferir, gramática que me agarra ao chão, sem gratificação de sentido. Vou pelos telhados, hoje à noite. Darei notícias do que captar e voltarei outra. Nunca se volta igual de um passeio pelos telhados de uma cidade qualquer, penso eu.






domingo, 7 de julho de 2013

Virou um tudo que não se acaba...




sempre há
uma ordem
a nos quebrar os passos

não há
corrida que baste
para superar
as sombras esféricas
do alinhamento

                         






sábado, 6 de julho de 2013

Quero o que mais me dá vontade, e quero vontade pra prosseguir

Morfologia da saudade…


a noite é longa e a manhã não vem. transito pelo avesso dos sentidos em desarranjos possíveis e inventados. ligo a tv  e a cena final de "Encontros e Desencontros" me arrepia. aquele sussurro entre os personagens, inteligível a quem assiste é a pura tradução da cumplicidade construída entre os dois  durante a história. Charlotte e Bob experimentam solidões particulares em meio a uma Tóquio de neons e agitações que, a princípio, parece não afetá-los. o encontro dos dois em uma madrugada insone preenche com sentidos o vazio que eles partilham diante de suas vidas, até então, insípidas e incolores. ela, em sua juventude, vigor e beleza é o mundo que ele deseja habitar. ele, com sua experiência e inteligência é o universo que ela deseja possuir. e assim, silêncios são partilhados em uma narrativa brilhantemente orquestrada por Sofia Coppola. em um jogo de antíteses, completudes são construídas na relação carinhosa que parece alimentar a vontade de movimentar suas vidas, até ali, estáticas. o filme termina, mas seu gosto saboroso permanece latente no modo como me faz refletir sobre tantas coisas como solidão, silêncio, identidade, escolha, vontade e projeto de vida. aquele sussurro do final, parece ressoar em meus ouvidos como uma melodia, cujos acordes repetem sem cessar " it's good, so good, it's so good "