estou sozinha em casa. cozinho uma receita sem gosto e sem graça para anestesiar a compulsão de meus dias. ao lado, um chá verde com limão que traz o amargo para a boca, tornando especial o momento certo da saudade. saudade que sempre varia nos dizeres, apesar de o sotaque não variar. gosto de viajar por dentro das palavras. viajar assim é ter oportunidade de sentir saudade do que era rotina. viajar por dentro da realidade é sentir saudade do que ainda está por vir, da descoberta de um tempo paralelo em outra parte do planeta. ontem voltei no tempo, hoje é dia de esquecer com o que quase me acostumei. é mais fácil arrumar as gavetas do que desfazê-las e assim também é com sonhos que depois de desfeitos trazem uma sensação de alivio tão grande que esquecemos do porque estávamos tão apegados a aquele sonho. arrumar as gavetas é lutar contra a sensação de estar esquecendo alguma coisa. sonhar é lutar com a realidade. a comida ficou pronta e a música ecoa pelas paredes. está desfeita a conexão. ainda me resta este chá frio para sorver um pouco desta saudade sem prazo de validade.