terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Soltam-se as amarras e os nós






Queria que percebesse que há entre nós um laço, mais do que um laço, um nó górdio, um amor complexo e irremediável, cheio de voltas e contravoltas, que ninguém poderá cortar com a sua espada, mesmo que especialmente (des)embainhada para o efeito.  Sei que hoje nada sentes, ocupado que estas com a aritmética inexata da sobrevivência, provavelmente estas palavras pouco te dizem,  tudo pode te parecer um pesadelo e  não acredita em mim no fim [como o fio de Ariadne] a te puxar deste labirinto.    Mas um dia olharemos para trás e leremos os dois este texto premonitório, palavra por palavra, promessa por promessa, juro!  e então será você  a embalar-me ,   afugentando os meus fantasmas com a mão como se fossem apenas insetos incômodos e não esta bola de fogo que me queima e me faz acordar no meio da noite, rolando pela cama o medo de te perder para sempre na fumaça dos terrores que inventas para ti mesmo.






sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

...é um nascer a toda hora








para voar, é preciso encher o corpo de vento
e amar a própria pequenez
é preciso aprender com os passarinhos
chamá-los de mestre,
e cantar as manhãs
 para só depois fechar os olhos,
e perder o chão.




quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Acomodar-se






"Não tenhas medo, ouve:

É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz..."

Miguel Torga
 in Baila sem Peso