quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A vida que quer se superar, tem sede do seu oposto...


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às vezes eu acho que quem muito espera se esquece que o agora tem muito tempo para dar. perde-se (ou nem conseguimos) o refinamento que poderia nos tornar mais sensíveis pela música, pela arte, pela reflexão filosófica, pela percepção mais ampla do que nos cerca. e, muitas vezes, seguimos, comendo, trabalhando, dormindo, indo ao banheiro... todos cercados de bestas (no sentido de animais de carga sem capacidade de refletir) que fazem o mesmo e nos dão a certeza de que isso é o que viver. o fato é que quando nos damos conta vemos que extraído pouco do Tempo. o que nos resta é essa rotina que nos reduz a bestas metódicas. a vida apenas, sem mistificação....




´Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
porque o amor resultou inútil.
e os olhos não choram.
e as mãos tecem apenas o rude trabalho.
e o coração está seco.
em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
és todo certeza, já não sabes sofrer.
e nada esperas de teus amigos
pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
as guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
chegou um Tempo em que não adianta morrer.
chegou um Tempo em que a vida é uma ordem.
a vida apenas, sem mistificação`

Carlos Drummond de Andrade







5 comentários:

Anônimo disse...

Mais um texto carregado de verdades, que nos deixa a pensar o que fazer para sermos melhores !

Beijinho

Ana

Nádia Santos disse...

Hoje as pessoas usam mal o tempo que tem e o que sobra são preenchidos com coisas fúteis, que não a fazem crescer como pessoa e ainda se acham... é triste. Sem falar no coração... estão ficando endurecidos, as pessoas parecem que estão desaprendendo a amar, a si e ainda mais ao próximo. Lindo! Bjus Margoh.

Aurora disse...

Quanta verdade em poucas linhas!
É uma verdadeira loucura o que as bestas nos dizem pra fazer. Loucura que confude e não nos deixa entender. Qual o sentido disso tudo?
Beijos.

JP disse...

Não há tempo para a vida ser uma ordem

A vida é sempre um agora permanente. E há sempre tempo para valer a pena.

Beijinho

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

O grande poeta, em plena filosofia. Profundo, verdadeiro!
Um beijo,
da Lúcia