terça-feira, 18 de junho de 2013

Em parte (in)certa!






Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras. Poucas,
ditas como por acaso.
.
Eram contudo palavras de amor.
Não propriamente ditas,
antes adivinhadas. Ou só pressentidas.
Como folhas verdes de passagem.
Um verde, digamos, brilhante,
de laranjeiras.
.
Foi como se de repente chovesse:
as folhas, quero dizer, as palavras
brilharam. Não que fossem ditas,
mas eram de amor, embora só adivinhadas.
Por isso brilhavam. Como folhas
molhadas.
.
.
Eugénio de Andrade





[há momentos,  em que sinto a necessidade de fugir para outros momentos]







2 comentários:

Rovênia disse...

A sensibilidade e a inteligência são apaixonantes. As palavras não ditas, mas que brilhavam como folhas verdes de laranjeira molhadas... O que é isso? Não dá vontade de andar com isso debaixo do braço para ler, reler até impregnar a alma?
[Que o dia siga em paz, poeticamente, como numa canção de Chico] :)

UIFPW08 disse...

me gusta..belo poema.
Morris