quinta-feira, 16 de março de 2017

A flor do poema se abrindo


É neste mundo que te quero sentir
É o único que sei. O que me resta.
Dizer que vou te conhecer a fundo
Sem as bênçãos da carne, no depois,
Me parece a mim magra promessa.
Sentires da alma? Sim. Podem ser prodigiosos.
Mas tu sabes a delícia da carne
Dos encaixes que inventaste. De toques.
Do formoso das hastes. Das corolas.
Vês como fico pequena e tão pouco inventiva?
Haste. Corola. São palávras róseas. Mas sangram.

Se feitas de carne.

Dirás que o humano desejo
Não te percebe as fomes. Sim, meu Senhor,
Te percebo. Mas deixa-me amar a ti, neste texto
Com os enlevos
De uma mulher que só sabe o homem.


Hilda Hilst; in Poemas Malditos, Gozosos e Devotos








(..)
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa;
 in Cancioneiro










[bendito o momento
em que o presente
me enche a boca]

7 comentários:

Raquel Lencastre disse...

Pura doçura poética
.
Deixo um beijo

Pedro Coimbra disse...

Um espírito inquieto num homem excepcional.
Bfds

Sónia M. disse...

...que seja sempre bendito...

Deixo um beijo

Vane M. disse...

Uma mensagem feliz subentendida e ainda assim, sempre tão presente... uma delicadeza de Pessoa. Abraços!

AC disse...

Mestre Fernando Pessoa, sempre actual...
(Gostei muito deste espaço, a sensibilidade paira por aqui)

Um bom final de semana :)

AC disse...

Ah, por interferência do Google+, sinto necessidade de dizer que o meu endereço é
http://ac-wwwinterioridade.blogspot.pt/

Sara com Cafe disse...

seguimento. hoje e sempre

abraco profundo.