domingo, 3 de fevereiro de 2013

eu me viro do avesso para ver o que tem dentro

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é preciso não esquecer nada
nem a torneira aberta
 nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

é preciso não esquecer
de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

o que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome,
o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.

o que é preciso esquecer
é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

o que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco,
pois o resto não nos pertence

. Cecília Meireles.







sozinha, eu me apago aos poucos. não acompanho a velocidade do mundo.  não sei parar. vou e venho por não saber além do que me resta. meu lugar é perto do fogo, junto a todos os que fogem da treva e se sentam tranquilos em torno da chama.  faz tempo que ardo. sou tição desconfiada, receosa que o vento me apanhe como cinza.  esta chama é lenta, ainda tem muito lume para fazer.  lá fora o corpo faz-se, umedecido pelos dias. se eu não me soubesse até não repararia na tenacidade da minha sombra.   meu incêndio é esse : ser fiel ao que me arde.


Caminho das águas by Maria Rita on Grooveshark