sábado, 9 de fevereiro de 2013

Com leves fricções de esperança

[Praia4.jpg]



abria os braços e tinha o tamanho exato da praia
fechava os olhos e era da mesma matéria que o mar
sentia na veia a fúria da água salgada
na beira da praia
a menina



na beira da praia
a mulher
que busca os mesmos sonhos de criança
 que sente ao afundar os pés na areia
que nada mudou
 que pertenço a ele
 ele é todo meu




Gota d'água by Chico Buarque on Grooveshark

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Nada, senão o instante, me conhece










"Quando as condições
são suficientes,
as coisas se manifestam.
Quando elas não são suficientes,
as coisas se retiram.
Elas esperarão
o momento certo
 para se manifestarem
de novo."



















[o tempo é um presente.  
os anos ensinam coisas
 que os dias não sabem]





quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A vida que quer se superar, tem sede do seu oposto...


.
às vezes eu acho que quem muito espera se esquece que o agora tem muito tempo para dar. perde-se (ou nem conseguimos) o refinamento que poderia nos tornar mais sensíveis pela música, pela arte, pela reflexão filosófica, pela percepção mais ampla do que nos cerca. e, muitas vezes, seguimos, comendo, trabalhando, dormindo, indo ao banheiro... todos cercados de bestas (no sentido de animais de carga sem capacidade de refletir) que fazem o mesmo e nos dão a certeza de que isso é o que viver. o fato é que quando nos damos conta vemos que extraído pouco do Tempo. o que nos resta é essa rotina que nos reduz a bestas metódicas. a vida apenas, sem mistificação....




´Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
porque o amor resultou inútil.
e os olhos não choram.
e as mãos tecem apenas o rude trabalho.
e o coração está seco.
em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
és todo certeza, já não sabes sofrer.
e nada esperas de teus amigos
pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
as guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
chegou um Tempo em que não adianta morrer.
chegou um Tempo em que a vida é uma ordem.
a vida apenas, sem mistificação`

Carlos Drummond de Andrade