as vezes acho que é a simplicidade que atordoa. nos desacostumamos do simples, o mundo anda muito rebuscado, escondido em efeitos especiais, de respostas que só vem depois de jogos metafóricos. talvez por isso que dentro de mim há muitas paisagens. às vezes atravesso desertos, mergulho em oceanos, caço em florestas, deito em nuvens de algodão.nas minhas paisagens há rostos conhecidos ou uma multidão de desconhecidos a serem descobertos. não fosse o milagre do inusitado, minha vida teria menos emoção, menos vibração e eu estaria encolhida à condição do senso comum, onde tudo é igual. prefiro me aventurar ainda que aparentemente não esteja em movimento. meu corpo permanece estático, mas meu espírito entra e sai do futuro. minhas paisagens interiores me conduzem à vida nômade onde percorro estradas que só eu avisto. elas me mostram como sobreviver às intempéries porque experimento, ainda que ninguém o saiba.