domingo, 4 de agosto de 2013

A lembrança, a imagem do de dentro...





quando mudou-se  do interior para a cidade grande , se divertia brincando com as plantas dos anúncios de apartamentos dos classificados de imóveis. ela esticava o jornal na sala, folheava-o até encontrar e torcia para que um grande empreendimento estivesse em andamento, uma obra gigantesca que compensasse a publicação de uma planta numa meia página, colorida e detalhada.  então, ela se transfigurava magicamente em uma estrelinha feita de papel  colorido e passeava pelos cômodos da casa.  fingia sentar-se na sala, ajeitando o que estivesse fora do lugar [sempre elegante e em silêncio], não queria ligar a tv, mas ler no sofá  bebendo um suco de cranberry, com o hobby de seda sobre um babydoll romântico.  depois, ia  para a "cozinha americana" preparar seu almoço, e podia passar o resto do dia deitada no quarto de portas fechadas – ou abertas, não fazia diferença – porque seus irmãos não caberiam ali naquele espaço, nem sua mãe depressiva entraria abruptamente para se queixar de seus problemas, nem a filha chata da vizinha mancharia as cortinas brancas com as mãos sujas sabe-se lá de que comida gordurosa e fria. sentia-se livre na sua casa imaginária. hoje ela é bem sucedida, mora em Paris e sente saudade da menina encantadora que o sonho a transformava...









sábado, 3 de agosto de 2013

Resquícios


 era um violão pousado numa casa cheia de amores-perfeito, no meio de uma tarde que corria em contra-luz. uma casa ressuscitada por um violão e uma voz incontida ao primeiro acorde. e depois, o despertar dos gestos e o calor que se acendeu apesar do frio e da arca envelhecida [provavelmente vazia e tão cheia de histórias]. e na janela maior flores inesperadas e mansas como o mar que corria perto. amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo,
 fechando o próprio ciclo....