terça-feira, 6 de agosto de 2013

É preciso andar muito para alcançar o que está perto



 os primeiros sons,
 as primeiras imagens.
0 mundo nos é  revelado.
rapidamente aprendemos as formas
[somos formatados].
compreendemos as palavras
 [somos aprisionados].
conhecemos a regra
[nos arrancam os olhos].
hoje, nada mais conseguimos
ver e tudo nos parece banal.
mas o Tempo não para .
somos ensinados
a ir sempre em frente.


0 que sabemos afinal?
.
.
.




.
"Que todas as coisas que
 consideramos habituais
 nos inquietem"


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Só quem sente, sabe.




 naquela noite  não se abraçaram como amantes, mas como vítimas, vítimas libertadas.  as palavras de amor que suspiravam entre beijos, quase inaudíveis, longe de aludir a um distanciamento fatal da vida cotidiana, pareciam antes celebrar o fim de uma tortura atroz, a suspensão de uma pena que os tinha mantido separados por uma eternidade. revidando um ritmo atravessado em garganta, cultuado  ainda em dança em dança no âmbar dos seus anseios. dos teus olhos escuros escapavam a minha dança e sobram outros segredos...


domingo, 4 de agosto de 2013

A lembrança, a imagem do de dentro...





quando mudou-se  do interior para a cidade grande , se divertia brincando com as plantas dos anúncios de apartamentos dos classificados de imóveis. ela esticava o jornal na sala, folheava-o até encontrar e torcia para que um grande empreendimento estivesse em andamento, uma obra gigantesca que compensasse a publicação de uma planta numa meia página, colorida e detalhada.  então, ela se transfigurava magicamente em uma estrelinha feita de papel  colorido e passeava pelos cômodos da casa.  fingia sentar-se na sala, ajeitando o que estivesse fora do lugar [sempre elegante e em silêncio], não queria ligar a tv, mas ler no sofá  bebendo um suco de cranberry, com o hobby de seda sobre um babydoll romântico.  depois, ia  para a "cozinha americana" preparar seu almoço, e podia passar o resto do dia deitada no quarto de portas fechadas – ou abertas, não fazia diferença – porque seus irmãos não caberiam ali naquele espaço, nem sua mãe depressiva entraria abruptamente para se queixar de seus problemas, nem a filha chata da vizinha mancharia as cortinas brancas com as mãos sujas sabe-se lá de que comida gordurosa e fria. sentia-se livre na sua casa imaginária. hoje ela é bem sucedida, mora em Paris e sente saudade da menina encantadora que o sonho a transformava...