dobraduras da vida

quero uma manhã

eterna de mar

e navegar

por entre a pele

da tua alma sem rumo

e esse acreditar inesgotável

a tarde avança em lençóis perfumados

e ao anoitecer adquire nome

de ilha ou vulcão

tenho os ouvidos lá fora e o coração atento

mas tu não bates  à minha porta 

e na fria vala da madrugada

ensinas ao meu corpo

a paciência, o amor 

o abandono das palavras

o silêncio 

e a difícil arte 

da melancolia

as palavras ditas não serão esquecidas

encosto a minha boca no teu ouvido,

 para que as palavras não fujam.

 para que aquilo que foi dito não perca o sentido.

não quero aprisioná-las. apenas quero que elas 

alcancem o teu coração.

meu anoitecer redondo

tua pele não retém as horas

escorres, liquido

sonoro

quero reaprender o amor

na respiração de teu desejo

quero-me sentada 

nas pálpebras quieta

dos teus olhos

quero me renascer em ti

caroço e casca

seiva e corpo