por hoje ser domingo, falemos de ternura, do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve no tempo mais antigo. apaguemos o sorrindo com ironia e cultivemos a doçura no fundo de um alto segredo que os restitui do futuro. falemos do desejo, de doces mãos irreprimíveis. sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
os sonhos encontram seu inocente jeito de durar contra a boca delicada rodeada em cima pela treva das palavras. digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo. descobrimos nossos corpos que se protegem e sorvem, e o silêncio admirável das fontes. pensamentos no espaço sideral de alguma coisa celeste como fogo exemplar. digamos que dormimos agarrados, e vemos as fadas um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores azuis, e temos memória
e absorvente melancolia e atenção às portas sobre a subespécie dos dias gris....
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