quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

voemos com o que temos





“Pentimento” é a palavra italiana para arrependimento, mas designa (em muitas línguas) uma pintura, um desenho ou um esboço encoberto pela versão final de um quadro. [...]

Visível ou não, o pentimento faz parte do quadro, assim como fazem parte da nossa vida muitas tentações e muitos projetos dos quais desistimos. São restos do passado que, escondidos e não apagados, transparecem no presente, como potencialidades que não foram realizadas, mas que, mesmo assim, integram a nossa história. [...]

Nossas vidas são abarrotadas de caminhos que deixamos de pegar; são todos pentimentos, mais ou menos encobertos: histórias que não se realizaram. Por que não se realizaram? Em geral, pensamos que nos faltou a coragem: não soubemos renunciar às coisas das quais era necessário abdicar para que outras escolhas tivessem uma chance. E é verdade que, quase sempre, desistimos de desejos, paixões e sonhos porque custamos a aceitar que nada se realiza sem perdas: por não querermos perder nada, acabamos perdendo tudo. [...]

Somos perigosamente nostálgicos de escolhas passadas alternativas, que teriam nos levado a um presente diferente. Se essas escolhas não existiram, somos capazes de inventá-las – e de vivê-las como pentimentos.

Contardo Calligaris, trechos de Pentimentos.



[e lá vamos nós, sem tempo para lapidação mas cuidando para não ser bruto]

O inevitável




a cada dia percebo com mais clareza que não há esquecimento que te salve do passado. e  porque será que  somente os finais é que conservam sua essência? finais e seu amargo gosto de final.  as vezes, acredito que até os finais deixaram de ser tão pontos-finais - para alguns o fim agora é um começo e tem o grato sabor do renascer- para mim e meus olhos cansados, fim é fim e sempre guarda o dissabor das saudades, dos olhares à meio-ponto, das mãos desatadas, das canções tocando em vão, do telefone silenciado, dos longos dias chuvosos. o inconfundível dissabor do amor. do amor-único ganhando um ponto-final.









e o que a gente faz com essa vontade de não ser?












sussurro
sem
som
onde
a gente
se lembra
do que
nunca soube

Guimarães Rosa










http://youtu.be/YVMARecAY5M

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A fonte de seu charme...




 Gilles Deleuze filósofo francês da Diferença. para este pensador, "a filosofia é criação de conceitos", característica esta que a distingue da Arte e da Ciência. Sua proposta vai de encontro à Psicanálise, ao afirma que, ao invés do "inconsciente" ser uma espécie de teatro da representação, o inconsciente estaria mais próximo de uma fábrica operada pela própria consciência, um "ato de criação". Além disso, Deleuze ousara continuar o projeto Nietzscheano de "superação da metafísica" e da "transmutação de todos os valores" 

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida. Agiu como forma de libertação das intensidades e paixões... "









Gilles Deleuze (Paris, 18 de Janeiro de 1925
 — Paris, 4 de Novembro de 1995)






coração não
é tão simples
quanto pensa
nele cabe o que
 não cabe na dispensa...♫♫